Há toda sorte de tese cujo objetivo é evitar o inevitável, ou seja, escamotear os nexos entre o bolsonarismo e Francisco Wanderley Luiz, homem-bomba que atacou o STF e se explodiu, não se sabe ainda se intencionalmente ou não.
Trata-se de operação semântica de grande dificuldade, visto que o ex-candidato a vereador pelo PL por um município de Santa Catarina deixou rastros que o vinculam aos apoiadores do ex-presidente, um dos quais se constitui pelo relato de familiares, gente que o conheceu de perto e para quem ele era uma pessoa "normal" antes de passar a consumir uma dieta com base em conspiracionismo. Segundo ex-mulher e irmão, por exemplo, Luiz se radicalizou depois da derrota em 2022 de Jair Bolsonaro (PL), chegando a participar dos acampamentos golpistas que resultaram no 8/1 de 2023 e numa tentativa de denotar o aeroporto de Brasília.
Existe encadeamento entre atos e consequências. Os gatilhos são o caldo de extremismo a partir do qual Luiz investiu contra as instituições e cujo subproduto é o farto conjunto de indícios de que agia politicamente motivado contra o alvo prioritário dos aliados de Bolsonaro (o ministro Alexandre de Moraes). Em sua casa e trailer alugados, foram encontradas oito bombas caseiras, além daquelas que já haviam sido empregadas no episódio de terrorismo.
Luiz preparou e executou um plano - se foi bem-sucedido ou um trapalhão, não interessa. Importa dimensionar duas coisas: o caráter estudado do ataque, que o distancia da conduta aleatória de um desvairado mental, embora não se possa afastar de todo a possibilidade de que ele estivesse sob carga altíssima de sofrimento psíquico, por fatores diversos.
A segunda coisa é o despreparo das instituições para se resguardar de ataques do tipo, seja o Supremo ou o Legislativo e Executivo. Menos de dois anos após o 8/1, impressiona o desembaraço com que Luiz, cujo corpo era uma ameaça ambulante, chegou em vias de entrar no prédio do STF. Se não o fez, não foi por obra da eficiência das equipes de segurança, mas por mero acaso.