A resistência da natureza no espaço urbano foi o que despertou a consciência ambiental do artista e performer Wellington Saraiva. A partir de suas vivências com arte e a pauta das condições naturais do planeta, ele conseguiu ressignificar as artes cênicas unindo cultura e ativismo ambiental.
Iniciando nas artes ainda no ensino fundamental, Saraiva esteve presente em atividades artísticas promovidas no ensino público. Sua trajetória de especialização começou em 2007, ao ingressar na licenciatura em Teatro no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), consolidando o desejo que sempre demonstrou nas artes cênicas.
Esse caminho fez com que que anos depois ele também trabalhasse como professor. Atualmente, Wellington finaliza seu mestrado em Artes na Universidade Federal do Ceará, com uma pesquisa voltada para ensino e performance.
Um de seus trabalhos mais recentes é a performance "Aguapé: Ações performativas no antropoceno", que vem sendo apresentada de forma solo em festivais e espaços urbanos.
Inspirado pela poluição da Lagoa da Parangaba, ele utiliza a planta aquática como metáfora para o resultado da ação humana no planeta, integrando artes cênicas, intervenção urbana e crítica político-ambiental.
O POVO - Atualmente você tem trabalhado com "Aguapé: Ações performativas no antropoceno", mas como surge a ideia desse projeto? Você usou alguma referência?
Wellington Saraiva - O trabalho "Aguapé" surgiu como pesquisa de mestrado em ensino de arte, envolvendo alunos em ações performativas na Lagoa da Parangaba para discutir o Antropoceno e a poluição ambiental. Simultaneamente, marcou o meu retorno à prática artística, para além da docência, conectando memórias pessoais e referências como os parangolés de Hélio Oiticica. A performance, que utiliza uma veste de plástico, material usado em nosso cotidiano, para simbolizar o impacto humano. Assim, passei de projeto coletivo para apresentações solo em espaços urbanos.
O P -Como a arte pode ser uma ferramenta importante para o debate ambiental?
Wellington - Sempre levantei essas questões com meus estudantes, mas agora isso está mais forte em mim como artista. Acredito que a arte é uma ferramenta importante para discutir assuntos políticos e sociais, e vejo a arte como uma ação política, com o objetivo de provocar reflexão e incômodo. Meu foco é usar a arte como movimento social e, ao mesmo tempo, como uma oportunidade de criar obras que ocupem espaços não convencionais, como as ruas, ao invés de instituições tradicionais. Vejo a arte na rua como mais democrática, sem limitações e com maior impacto nas pessoas.
OP - A pauta ambiental sempre foi um assunto do seu interesse? Como surgiu a vontade de estudar o assunto em união com a arte?
Wellington - Sempre me interessei por essa questão, especialmente pela degradação da Lagoa da Parangaba, que foi poluindo com o tempo devido à urbanização. Como professor de arte, sempre levantei essas questões, mas agora, como artista, estou mais focado em criar ações performativas sobre isso.
Desde pequeno, também acompanhei um processo de degradação de uma lagoa perto de casa. Onde morava tinha uma Olaria, meu pai fazia tijolos e ali naquele terreno para tirar o barro para fazer esses tijolos. Quando ele parou a Olaria, esse espaço virou a lagoa natural, era limpa e cuidada, mas com o tempo a urbanização e o crescimento de casas ao redor, inclusive a do meu pai, fez com que essa Lagoa ficasse poluída.
OP - Enquanto artista e performer, como é fazer levar a sua arte para as ruas?
Wellington - Para mim, tem sido algo novo na prática. Já faz um tempo que estou me atualizando, principalmente em intervenções urbanas, mas ainda é recente. Ao fazer uma performance na rua, levo algumas preocupações, como a possibilidade de sofrer violência, já que estou interrompendo o cotidiano das pessoas.
OP - Já passou por alguma situação inesperada enquanto apresentava a performance?
Wellington - Sobre situações inesperadas, não tive algo negativo que me afetasse, além de alguns comentários, mas isso não me atinge. Algo positivo foi quando encontrei um grupo indígena durante minha performance na Lagoa da Parangaba. Eles estavam panfletando e nos encontramos por acaso. Eles seguiram me acompanhando e, mais tarde, uma pessoa me encontrou no Instagram e explicaram o que estavam fazendo. Foi um encontro incrível e pareceu fazer parte da performance.
Mais informações sobre o artista
instagram:@wellingtonssw