O ex-presidente Jair Bolsonaro é astucioso - ou pensa que é. Desde que seus planos golpistas vieram a público na investigação conduzida pela PF, tem se empenhado em convencer a opinião pública de que se tratou de ideia de "aloprados", que algo do tipo não seria concebível no país de hoje e que não se leva golpe adiante com meia dúzia de oficiais e generais da reserva. Pior, ele mesmo seria não o perpetrador, mas uma vítima do golpe.
Ora, Bolsonaro explora em seu argumento de defesa o que há de ridículo na empreitada fracassada, como de fato é risível toda investida dessa natureza que dá com os burros n'água. Vista agora, fica mais fácil ainda divertir-se com o roteiro jocoso da intentona autoritária, dos personagens envolvidos até os diálogos de fardados encolerizados. Daí a acreditar que tudo não passasse de "delírio bananeiro" vai boa distância.
Bolsonaro, a se crer no que a investigação aponta mediante fartos elementos, capitaneou tentativa de solapar o poder democrático no Brasil, não com tanques nas ruas (não por falta de tentativa), mas corroendo desde dentro o funcionamento das instituições, como fizeram seus homólogos nos regimes iliberais mundo afora. É precisamente o que a PF indica no inquérito apresentado na semana passada, ou seja, que o ex-chefe do Executivo concorreu para o cometimento do crime, do qual era o principal beneficiário, a despeito do que possa existir de mequetrefe no script elaborado a muitas mãos para a consumação do golpe à brasileira.