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A força política não deve se sobressair sobre as boas práticas
Farol

A força política não deve se sobressair sobre as boas práticas

A questão que me disponho a discutir não é a legalidade da indicação, mas sim a moralidade disso. Não é porque algo está no alcance de todo o seu poder político que isso o convenha
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Sabatina de Onélia Santana, na Assembleia Legislativa do Ceará, para o cargo de conselheira do TCE (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Sabatina de Onélia Santana, na Assembleia Legislativa do Ceará, para o cargo de conselheira do TCE

O fato político da semana foi a indicação, aprovada sem dificuldades no legislativo, de Onélia Santana ao cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado do Ceará (TCE-CE).

Ela é secretária da Proteção Social, tem doutorado em Saúde Pública, MBA em Administração, atuou como psicopedagoga e possui um vasto currículo. Uma cartilha sobre as qualificações de Onélia circulou entre deputados na Assembleia antes da votação. Nas 14 páginas, não havia menção a ser casada com o ministro da Educação, Camilo Santana (PT).

Muito foi falado sobre o uso da influência do ex-governador e também de todas as qualidades de uma biografia inegavelmente expressiva de Onélia. A indicação nem foi - em tese - de Camilo, mas sim dos deputados, e cumpriu todos - ou quase todos - os requisitos e ritos. Embora sabatinada a portas fechadas para a imprensa e a transmissão disponibilizada somente horas depois no fim da noite.

A questão que me disponho a discutir não é a legalidade da indicação, mas sim a moralidade disso. Não é porque algo está no alcance de todo o seu poder político que isso o convenha. A indicação não é ilegal, mas lembra as péssimas práticas de antigos poderosos.

Muito foi falado da paridade de gênero, e que bom que isto está sendo discutido, mas é difícil acreditar que Onélia seja a única mulher cogitada para ocupar um cargo vitalício. Izolda Cela (PSB), por exemplo, se colocou à disposição, mas os mesmos que a defenderam a ponto de romper uma aliança política antiga para ser candidata a governadora, não a consideraram.

Camilo foi aprovado nas urnas com recordes de votos e conseguiu triunfos marcantes para aliados vistos como improváveis, mas a força política não deve se sobressair sobre as boas práticas. Por fim, chamou atenção que, quando questionado, não chegou a exaltar o currículo da indicada, sua esposa, mas jogou o assunto para a Assembleia.

 

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