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Silvia Alves: Sangue de bordadeira que virou projeto e empreendedorismo
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Silvia Alves: Sangue de bordadeira que virou projeto e empreendedorismo

Com trajetória marcada por desafios, ter empresa própria e projeto foi a realização de um sonho antigo, após perder a irmã durante o parto
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FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 05-02-2024: Dois dedos de prosa com Sílvia Alves, empreendedora dona da loja Lana Siganna (Foto: Samuel Setubal/ O Povo) (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 05-02-2024: Dois dedos de prosa com Sílvia Alves, empreendedora dona da loja Lana Siganna (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

Mãe, empreendedora, designer. Silvia Alves, de 47 anos, é tudo isso e mais. Para chegar a essas descrições passou por muitos percalços e hoje usa a própria experiência para mudar a vida de outras mulheres.

Cresceu envolta de artistas. Com a avó artesã e a mãe bordadeira, o gosto pela moda pintou e o sonho de ter a própria marca nasceu. Vendo a família trabalhar tanto sem receber o que merecia, a capacitação na área veio como uma forma de finalmente saber o valor de tanto esforço.

Inicialmente, após se formar em Design de Moda, ingressou no mercado de trabalho tradicional, porém, quando teve filha precisou aprender a empreender para cuidar dela. Em uma jornada de quase 30 anos, Silvia relata que passou por perdas, desesperanças e derrotas antes de finalmente conseguir criar sua empresa, a Lana Siganna, e seu projeto, Rosas em Movimento.

Em janeiro de 2025, foi reconhecida no Troféu Empreender, iniciativa do Grupo de Comunicação O POVO que tem o intuito de valorizar o empreendedorismo local e inspirar novas gerações de empreendedores.

Ao O POVO, Silvia Alves conta sua trajetória, os desafios que passou para ser reconhecida em sua área, suas inspirações e suas aspirações para o futuro.

O POVO - Quando nasceu seu interesse pelo setor da moda?

Silvia Alves - Eu fui criada pela minha avó que era indígena e tinha o artesanato na veia, tudo na casa dela era de retalho, parecia uma casinha de boneca, tudo feito à mão. E tem também a minha mãe, toda a família dela é de bordadeiras, elas migraram do Interior para Fortaleza, na época da fome e da seca, e montaram a Casa das Bordadeiras. Então, eu cresci nesse mundo colorido, em um mundo mágico, de muita criatividade. Mas, a gente era muito desvalorizada, pagavam muito pouco pelo nosso trabalho. O meu interesse pela moda veio justamente de eu poder ter um diploma, digamos assim, para valorizar o meu trabalho. Por quê? O que eu via? Minha família toda morrendo de trabalhar e ganhando uma miséria.

O POVO - E a Lana Siganna, como ela foi criada? Era um sonho antigo?

Silvia Alves - Eu passei 20 anos na indústria têxtil, trabalhando com roupas femininas. Durante esse tempo eu tinha o sonho de empreender, porque eu sou artesã, mas sempre ficava só no sonho. Então, quando eu tinha 25 anos, eu tive a minha filha e precisei me demitir de onde eu trabalhava para poder cuidar dela e fui bordar com a minha irmã. A gente montou um ateliê embaixo da casa da minha mãe. Passamos cinco anos trabalhando lá, mas a gente sempre sonhava em montar uma marca e progredir nos negócios, no nosso negócio.

Mas minha irmã faleceu, e eu não conseguia mais bordar, precisei voltar para o mercado de trabalho tradicional, mas sempre com o sonho de voltar. Aí comecei a vender minhas bolsas na empresa mesmo, até que um amigo meu me convidou para montar uma feira de negócios na Estácio Parangaba e eu voltei com a minha marca e também com esse novo projeto.

O nome da minhã irmã é o nome da minha marca, Lana. A nossa diferença de idade era de três anos. Ela era mais velha que eu; se hoje ela fosse viva, teria 50 anos. Ela foi ter neném e faleceu em 2010, ela e o neném. Ela já tinha dois filhos, que eu acabei criando. Uma menina e um menino, que hoje já são adultos.

O POVO - Há quantos anos você vem investindo na sua empresa?

Silvia Alves - A Lana Siganna existe desde 2020, começou com as vendas na empresa que eu trabalhava, como eu citei antes, até que comecei a vender em feiras e, posteriormente, consegui ter a loja mesmo e me cadastrar como Microempreendedora Individual (MEI). Ela é itinerante e eu vendo online.

O POVO - Como foi esse processo de se tornar uma empreendedora?

Silvia Alves - Foram muitas decepções. O meu início foi nas feiras de Fortaleza e não foi uma boa experiência porque elas não me deram retorno, eram muito caras e eu não tinha muitas vendas, não tinha experiência, não tinha meio, não tive consultoria de negócios. Então, eu sempre ia para onde não era o meu público-alvo. O que me ajudou muito foi me capacitar cada vez mais. Comecei a ir para vários cursos no Sebrae, na área de Marketing, na área de Desenvolvimento de Marca e na parte também financeira. E aí, eu fui melhorando. Foi uma trajetória, digamos assim, de perdas, de muita luta, para poder hoje a gente ter vendas, conseguir pagar as contas e tudo.

O POVO - Dentre os aprendizados, o que se destacou?

Silvia Alves - Olha, foi saber onde o meu público-alvo está. Porque não existe negócio sem vendas, e as vendas só acontecem quando você consegue atingir o seu público. O resto você tira de letra, porque organizar as finanças, comprar os insumos, tudo isso só pode acontecer se você tiver as vendas. Então eu acho que encontrar o meu público foi o maior pontapé da marca.

O POVO - Tem alguém que te inspire a continuar com o seu negócio?

Silvia Alves - Minha irmã, quando ela estava viva a gente teve esse sonho de empreender, o nome da loja inclusive é em homenagem a ela. Então, eu não vou mentir para você, a minha fortaleza foi realmente ela. Sempre que eu pensava em desistir, porque não é fácil, eu lembrava da guerreira que ela era, da pessoa incrível que ela era, e claro, eu fui criada por mulheres incríveis, minha avó, minha mãe, as suas irmãs, todas mulheres fortes. Então eu acho que eu fui realmente uma mistura de força de todas essas mulheres.

O POVO - Você também é a criadora do projeto Rosas em Movimento, que reúne mulheres para a venda de produtos em feiras e outlets. De onde veio a ideia de criar ele?

Silvia Alves - Veio do que eu passei, porque eu pensei muitas vezes em desistir, mas eu só quebrei muito a cara porque eu não tinha esse norte, eu não tinha esse conhecimento, não teve ninguém para me orientar. E hoje, conversando com as meninas, eu vejo que isso ainda está muito evidente, ainda tem muita gente passando pela mesma coisa, e eu não quero isso, eu quero mudar essa realidade e eu estou conseguindo fazer a diferença na vida de muitas pessoas. Porque dá para você viver da sua marca sim, mas existe um processo, um caminho.

O POVO - Como você descreveria o impacto do seu projeto para a sociedade?

Silvia Alves - Então, hoje, na nossa área de empreendedorismo feminino, existem várias mulheres que sofrem violência doméstica, tem mulheres que são mães solos, que, às vezes, até levam os filhos para ficar com elas na feira, vendendo, tem mulheres que estão se tratando de depressão, as que o mercado de trabalho não absorve mais por causa da ideia, e muitas encontram na feira e no trabalho o acolhimento que elas precisam.

O POVO - Recentemente você foi premiada pelo Troféu Empreender, qual a importância desse reconhecimento?

Silvia Alves - Olha, o mais importante do troféu é a confiança que cada vez mais as pessoas vão ter no meu trabalho. Essa confiança, ela é crucial para o crescimento de um profissional. Porque hoje em dia no mercado, seja em qual área você for seguir, existe a competitividade. Mas se você gera confiança, as pessoas vão te ter como referência. E o troféu veio trazer essa credibilidade do que é o trabalho da marca Lana Siganna, do projeto Rosas em Movimento, que está concentrado tudo em uma mulher só, que sou eu.

*Colaborou Ana Luiza Serrão

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