O presidente americano, Donald Trump, insistiu nesta terça-feira, 11, em sua ideia de deslocar os palestinos e colocar a Faixa de Gaza sob "a autoridade americana", mas o rei da Jordânia, Abdullah II, expressou sua oposição.
"Ressaltei que meu compromisso principal é com a Jordânia, com a sua estabilidade e com o bem-estar dos jordanianos", publicou Abdullah nas redes sociais, após se reunir com Trump na Casa Branca. O monarca disse a Trump que o Egito vai apresentar um plano sobre como os países da região poderiam "trabalhar" com o presidente americano, e que os países árabes vão discuti-lo em Riade.
"Acredito que uma das coisas que podemos fazer imediatamente é levar 2 mil crianças, crianças com câncer que estão em estado muito grave, isso é possível", ofereceu Abdullah a Trump.
Trump classificou a iniciativa como um "gesto bonito" e disse que não estava ciente dela antes da chegada do monarca jordaniano e de seu filho, o príncipe Hussein, à Casa Branca.
O presidente republicano pareceu recuar em sua sugestão de reter a ajuda à Jordânia e ao Egito caso eles se recusassem a receber mais de 2 milhões de palestinos de Gaza, mas insistiu em seu plano de colocar a Faixa de Gaza sob "a autoridade americana".
'Não temos que comprar'
"Não temos que comprar. Vamos ter a Faixa de Gaza", afirmou Trump. "Vamos tomá-la, mantê-la, valorizá-la."
O presidente americano, que fez fortuna como magnata do mercado imobiliário, negou que queira desenvolver pessoalmente propriedades no território palestino: "Não, tive uma grande carreira no setor imobiliário."
Trump surpreendeu o mundo ao anunciar na semana passada uma proposta para que os Estados Unidos assumam "o controle" da Faixa de Gaza, a fim de reconstruir aquele território, devastado pela guerra. Segundo ele, trata-se de realocar os palestinos em outros lugares, sem um plano para seu retorno, e transformar o território em "uma Riviera do Oriente Médio".
'Pose de durão'
O cessar-fogo na Faixa de Gaza parece cada vez mais frágil, depois que Trump advertiu ontem que as portas "do inferno" serão abertas caso o Hamas não liberte todos os reféns até o meio-dia de sábado.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, alertou nesta terça-feira que Israel retomaria "combates intensos" em Gaza se o Hamas não cumprir o prazo.
Trump disse duvidar que o grupo islamista palestino atenda à exigência. "Pessoalmente, não acredito que vão cumprir o prazo", afirmou. "Acho que querem fazer pose de durões, mas veremos se realmente são durões", comentou.
No entanto, minimizou o impacto desse cenário na possibilidade de estabelecer uma paz duradoura entre Israel e o Hamas. "Não vai demorar muito quando você conhece os valentões", acrescentou.
O rei jordaniano e o príncipe-herdeiro se reuniram antes com o assessor de segurança nacional de Trump, Mike Waltz. A visita de Abdullah II, um aliado-chave dos Estados Unidos, precede a do presidente egípcio, Abdel Fatah al Sisi, que deve viajar a Washington nesta semana.
Analistas apontam um problema existencial, principalmente para a Jordânia. Metade da população do reino hachemita, de 11 milhões de pessoas, é de origem palestina, e desde a criação de Israel, em 1948, muitos palestinos buscaram refúgio em território jordaniano.
Em 1970, no episódio conhecido como "Setembro Negro", eclodiram confrontos entre o exército jordaniano e grupos palestinos liderados pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que acabaram sendo expulsos.