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Incêndio em fábrica de fantasias irregular fere 10 e causa pânico no Rio
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Incêndio em fábrica de fantasias irregular fere 10 e causa pânico no Rio

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Rio de Janeiro (RJ), 12/02/2025 - Incêndio atinge a fábrica de roupas Maximus Confecções, no bairro de Ramos, na zona norte do Rio de Janeiro. A instalação produz fantasias para o carnaval carioca. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil Rio de Janeiro (RJ), 12/02/2025 - Incêndio atinge a fábrica de roupas Maximus Confecções, no bairro de Ramos, na zona norte do Rio de Janeiro. A instalação produz fantasias para o carnaval carioca. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Um incêndio de grandes proporções atingiu uma fábrica de confecção de fantasias de carnaval em Ramos, na zona norte do Rio, na manhã de ontem. Pessoas precisaram ser retiradas pelos bombeiros após serrarem esquadrias de janelas - dez tiveram ferimentos graves. O local operava de forma irregular e não tinha alvará dos bombeiros. Todas as fantasias da Império Serrano, tradicional escola fluminense que está no Grupo Ouro, foram perdidas, segundo a agremiação.

Pelo menos 30 pessoas, incluindo adolescentes e idosos, dormiam no local quando o fogo começou, no início da manhã. Cenas de desespero marcaram o resgate das pessoas. "Estávamos dentro do ateliê trabalhando e comecei a ouvir os gritos de fogo", contou uma funcionária identificada como Roberta. "Quando eu abri a porta, o fogo veio e só deu tempo da gente correr, se jogar pela escada e sair. Mas tinha mais gente lá em cima. Pegou fogo em tudo, tudo, nas máquinas. Está desesperador, foi horrível."

Segundo a TV Globo, o local operava em turnos até noturnos para dar conta da alta demanda de produção. Mas não está claro se todas as pessoas que estavam no local eram funcionárias. O Ministério Público do Trabalho abriu uma investigação para apurar o caso.

Moradores dos prédios vizinhos acordaram com os pedidos de socorro e tentaram ajudar no resgate das vítimas. Muitos prédios foram evacuados por risco de que o fogo se alastrasse pela vizinhança.

A imagem que ficou da situação é de Wesley da Cruz Ricardo, de 27 anos, o rapaz que aparece preso em uma janela da fábrica enquanto o incêndio avança. Nas imagens divulgadas pela TV, ele está sem camisa e de bermuda amarela, usando uma toalha molhada para ajudar a respirar. Ele e outras três pessoas foram resgatadas pelo Corpo de Bombeiros por meio de uma escada. Ele foi levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, por causa da inalação de fumaça e de cortes no braço.

Segundo a Secretaria da Saúde, dez vítimas estão no Hospital Estadual Getúlio Vargas, todas em estado grave por queimadura por via aérea e inalação de fumaça tóxica. As vítimas estão entubadas para proteção das vias aéreas e foram encaminhadas para a UTI.

A Império Serrano e a Unidos da Ponte divulgaram notas pelas redes sociais, lamentando o fogo na Maximus Confecções, responsável por todas as fantasias das duas agremiações. O mesmo ocorreu com a Unidos de Bangu, conforme informado pela Liga das Escolas de Samba do Rio. Pelas imagens internas, pouco restou do material de carnaval - o que levantou dúvidas sobre o desfile das escolas na Série Ouro e, consequentemente, sobre um possível não rebaixamento de escolas neste ano.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, adiantou em postagem nas redes sociais que conversou com o presidente da Série Outro, e as três agremiações afetadas não seriam rebaixadas. Mais à noite, essa decisão foi formalizada em reunião com os presidentes de todas as escolas de samba.

IRREGULARIDADES

O coronel Luciano Sarmento, subcomandante do Corpo de Bombeiros, disse que o incêndio começou pouco antes das 8 horas e 21 pessoas foram resgatadas. "Era uma edificação com muitos materiais de alta combustão, como plásticos e papéis. Não possui certificado de aprovação do Corpo de Bombeiros e, por consequência, não tinha condições de segurança para o funcionamento", explicou.

A confecção também está em situação irregular com a Receita Federal e, portanto, inapta a funcionar. A empresa está inadimplente desde outubro de 2023. Apesar disso, a prefeitura do Rio afirmou que o imóvel tinha o alvará de funcionamento para a atividade de confecção.

Especialista em Gestão de Riscos da Universidade Federal do Rio (UFRJ), Gerardo Portela afirmou que a construção não era apropriada para abrigar uma confecção de fantasias com tantos materiais inflamáveis, como isopor, plástico, tinta e cola. "É um prédio vertical, sem saídas alternativas amplas, janelas gradeadas ou basculadas, um conjunto aglutinado de diferentes edificações construídas para outros fins e cercada de prédios e residências", disse. "Esses elementos agravam o cenário, confinando calor e fumaça."

Se as condições fossem distintas, ponderou Portela, com sistemas de prevenção de incêndios ativos, portas antipânico, rotas de fuga e funcionários treinados, o fogo poderia ter sido pontual. "Houve inalação de fumaça em quantidade suficiente para intoxicação", afirmou.

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