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Bernardo Gentil, o piloto com gentileza até no nome
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Bernardo Gentil, o piloto com gentileza até no nome

Cearense de 14 anos irá competir pela Fórmula 4 em 2025. Atual campeão da Copa Brasil e da Copa São Paulo Light de Kart na categoria Júnior, ele assinou com a Cavaleiro Sports
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Bernardo Gentil, piloto cearense de 14 anos, vai disputar a Fórmula 4 em 2025 (Foto: Darksidekarts / Divulgação)
Foto: Darksidekarts / Divulgação Bernardo Gentil, piloto cearense de 14 anos, vai disputar a Fórmula 4 em 2025

Bernardo, de 14 anos, carrega nas pistas o sobrenome da mãe, Magaly Gentil, para agradá-la, e com isso ela deixá-lo correr. Assim, ele segue regra de outros pilotos de corrida brasileiros consagrados, como Ayrton Senna (filho de Neide Senna) e Nelson Piquet (filho de Clotilde Piquet).

Gentil se intitula um piloto "gentleman". Para ele, "as corridas não são feitas só de vitórias não, também é do que o piloto mostra em pista". Mas também revela ser "agressivo" — quando tem de ser — no cartódromo.

Da vontade de competir em alto nível, aos 10 anos de idade, ele saiu da terra natal, Fortaleza, e se mudou para Brasília (Distrito Federal), levando consigo o mantra: “Ninguém sonha alto demais”.

Em visita à Capital, Bernardo concedeu entrevista ao O POVO durante o evento em homenagem ao título de campeão da Copa São Paulo Light, categoria Júnior, na NewSedan Mercedes-Benz. Em maio, ele estreia na Fórmula 4, pela Cavaleiro Sports.

O POVO - Há quanto tempo você corre? Qual foi a primeira corrida?

Bernardo Gentil - Corro há nove anos. Já é um bom tempo, mas parece que passou em dois segundos. A minha primeira corrida foi em outubro de 2016, em Brasília, categoria de Kart Mirim, e corri com três pessoas no grid, parece pouco, mas, para mim, naquela época, era muito. No grid, um piloto acabou desistindo (da carreira) [Enzo Rossi], e o outro piloto, Pedro Clerot, agora está na Fórmula Regional Europeia (Freca). É realmente um prazer compartilhar uma corrida com um cara que está no alto nível hoje em dia.

O POVO - E a primeira vitória no kart?

Bernardo Gentil - A primeira vitória ocorreu em 2017 na Copa São Paulo Light, categoria mirim, no primeiro ano em que disputei o principal torneio do País. Foi algo surreal para minha cabeça porque eu corri no cenário nacional e não só isso, consegui vencer quem eu mais admiro: o Gabriel Koenigkan, e foi muito emocionante para mim. Chorei dentro do capacete. Tenho certeza que esse sentimento vai ficar para sempre na minha cabeça.

O POVO - Foi motivado por alguém da sua família para começar a correr?

Bernardo Gentil - Meu pai, Paulo Porto. Ele era piloto. Eu gostava muito de ver ele correr. É algo que eu fui apaixonado desde 1 ano de idade. Ficava imitando os barulhinhos. Posso dizer que nasceu dentro de mim essa paixão.

O POVO - Laços com o Ceará. Existem?

Bernardo Gentil - Passei um bom tempo aqui no Ceará. Até meus 10 anos (2020). É ruim porque a gente perde muitas amizades. Mas, te falar, é desse jeito que você descobre as verdadeiras também. Por exemplo, o Rafael Pinheiro [estava no evento] é meu amigo desde os 4 anos de idade. Então você vê que é uma amizade verdadeira.

A primeira vez que andei de kart foi no Eusébio. Mas não tive tantos laços porque o cartódromo [Júlio Ventura] foi destruído quando tinha 6 anos. Era difícil porque tinha que viajar para treinar. Toda vida ia só para treinar, nem para correr. Era muito ruim. Então poder ter, em Brasília, uma pista perto da minha casa para poder ir treinar a hora que eu quiser é bem melhor.

O POVO - Como foi a adaptação tendo em vista que você saiu tão novo do Estado?

Bernardo Gentil - Sempre tem aquele medo, aquele receio. "E se eu for mal? Será que o pessoal não vai querer mais me ter em equipe?". Fui muito novo correr nos Estados Unidos, com 8 anos de idade (2018). Apesar do meu nervosismo de achar que ia mal, acabei ganhando o Orlando Rok Cup e levamos pódio no principal campeonato que é o Superkarts! USA, então foi algo que não estava imaginando de mim mesmo. Depois disso, acabei correndo no Brasil com um pouco menos de pressão. Uma das melhores coisas no kart é você correr sem pressão, porque você corre feliz, sem medo de bater, sem medo de nada.

O POVO - Como é a sua relação com as equipes que já participou?

Bernardo Gentil - Comecei na equipe Prokart [2016–2017]. São pessoas que eu sempre posso contar quando preciso e devo muito também ao chefe de equipe da Prokart, Diogo Broka, por me ensinar 90% de tudo que eu sei hoje. Quando fui correr em São Paulo, migrei para Bravar/Shell, e fiquei um bom tempo lá [2018–2021]. Em 2022, me chamaram para correr na CRG. Eu nunca pensei porque era uma equipe que eu sempre dizia "nossa, queria muito correr lá". Foi um sonho realizado.

O POVO - Como faz para conciliar os estudos?

Bernardo Gentil - A única coisa que é mais difícil do que ser piloto é fazer isso aí (risos). Acaba perdendo muita aula. Esse ano (2024) perdi 63 aulas. A escola deu um apoio para não me expulsar, porque 63 dias acho que já é suspensão, expulsão ou repete de ano, alguma coisa assim. É um negócio que você tem que conciliar bem, contratar uma professora particular, pegar os conteúdos com os amigos. Você mal tem um tempo de descanso, mas tem que estar focado toda hora, tem que ir lá estudar, então é algo difícil.

O POVO - Quais são as suas inspirações?

Bernardo Gentil - Claro, tem o Ayrton Senna. Meu pai também, ele que me fez ter a coragem que tenho hoje. O Max Verstappen é um cara que tem garra, ele não desiste fácil, e quando ele perde se esforça para melhorar. Esse tipo de coisa eu admiro muito, apesar de estar em um momento ruim, levantar a cabeça, enfrentar, e dar o melhor para poder vencer.

O POVO - Qual corrida você considera a mais difícil?

Bernardo Gentil - As finais de nacional, de brasileiro, são as mais difíceis, porque são as mais disputadas. O pessoal entra com sede de ganhar. Dando a vida. Sangue no olho. Ninguém dá moleza. Por isso é tão prestigiado quando se ganha uma competição nacional. O que você tem que fazer é partir para cima também.

O POVO - Qual corrida você considera a mais difícil?

Bernardo Gentil - As finais de nacional, de Brasileiro, são as mais difíceis, porque são as mais disputadas. O pessoal entra com sede de ganhar, dando a vida, sangue no olho. Ninguém dá moleza. Por isso é tão prestigiado quando se ganha uma competição nacional. O que você tem que fazer é partir para cima também.

Por exemplo, eu ganhei a Copa do Brasil, em 2018, ganhei um Brasileiro, mas acabei sendo desclassificado por causa de um toque que dei em outro piloto. Não gosto de falar dessas coisas, mas acabou rendendo punição para mim. Nesse último Brasileiro a gente estava rápido, o time tinha o ritmo para poder ganhar, mas na segunda rodada acabei dando um toque, meio que um enrosco, que acabou tirando total a chance de eu conseguir aquele título. Do mesmo jeito, voltamos com a barra torta para pista, depois de tomar o toque, voltei, em décimo ou décimo primeiro, fiquei em terceiro, mas sabe, as corridas não são feitas só de vitórias não, também é do que o piloto mostra em pista. Às vezes a vitória não é a coisa mais importante. O cara que me deu o toque para fora, eu gostava muito dele. Foi um amigo meu de infância, chama-se Theo Salomão. A gente acabou se desentendendo após isso, mas são coisas do tempo. Vai passar. É ruim isso. Todo mundo quer ganhar. Não culpo ele por isso. É algo do piloto.

O POVO - O que você pensa sobre a Fórmula 1? Qual equipe você gostaria de defender?

Bernardo Gentil - A Fórmula 1 é um sonho. Mas como digo: "Ninguém sonha alto demais". Se Deus quiser, eu vou conseguir. Claro, se eu acabar não conseguindo, tem várias opções que eu posso seguir, como Indie, Protótipo, Tielemans. Isso também não é muito uma preocupação minha. O futuro vai decidir isso para mim. Vai ser difícil, estou ciente disso. Gostaria de fazer parte da equipe da Mercedes ou da Red Bull. São duas equipes que eu sonho em correr. Eu vou conseguir dar o próximo passo para a Fórmula 4 ano que vem (2025).

O POVO - Se considera um piloto “Gentil”, fazendo jus ao seu nome, ou mais agressivo?

Bernardo Gentil - Faço jus ao meu nome: Gentil. Não sou nem de perto um dos pilotos mais agressivos em pista. Sou mais o tipo de piloto calmo que analisa o que precisa fazer. Eu penso antes de qualquer ultrapassagem. Sou um cara mais conservador. Claro, quando é para ser agressivo, todo mundo é. Mas eu sou um tipo de piloto do tipo mais intelectual. Prefiro pensar nas coisas antes de fazer. Tento não triscar em ninguém, ser o tipo de piloto elegante. É o que mais gosto. O piloto gentleman. Respeitar os pilotos em pista é sempre o mais importante.

O POVO - Como é a participação da sua família na sua carreira?

Bernardo Gentil - Meu pai trabalha muito. Apesar de passar um bom tempo com ele, a gente não fica o tempo todo juntos. Minha mãe e minha irmã [Magaly e Olívia] vão raramente para as minhas corridas. Então também fica ruim de a gente se falar. Eu não passo muito tempo em casa, mas também não é a melhor coisa do mundo você estar longe da sua família o tempo todo. Tem que mandar mensagem toda hora, minha mãe é bem preocupada com isso, ela sempre liga para minha saúde.

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