Entre lápis de colorir e desenhos animados: foi durante a infância que Miguel Felício demonstrou o interesse pela ilustração. Apesar de não saber que o talento poderia se tornar trabalho, ele explorou a paixão por personagens de videogames e criava as próprias histórias.
Seu caminho artístico, no entanto, foi interrompido por questões acadêmicas e profissionais. Após anos de afastamento, Miguel voltou a se conectar com o desenho, em 2014, quando decidiu voltar com seu hobby e, a partir de então, a arte tornou-se parte fundamental de sua vida.
Cearense de coração, o recifense ganhou destaque nacional participando de publicações e projetos, alguns até internacionais. Busca apresentar as HQs como ferramenta de expressão e como veículo de emoções e reflexões que só a arte pode proporcionar.
Em conversa com O POVO, Miguel apresenta seus projetos e relembra sua trajetória na área dos quadrinhos.
O POVO - Como você começou no mundo da arte e dos quadrinhos?
Miguel Felicio - Desde criança, eu gostava de desenhar. Não tinha videogame, então desenhava os personagens que via na TV e criava minhas próprias histórias. No início, meu sonho era ser desenhista, mas acabei me afastando disso. Mais tarde, me aproximei do desenho novamente quando comecei a estudar japonês, inspirado pelos mangás, o que me levou a ensinar japonês e inglês por um bom tempo. Mas em 2014, decidi retomar o hobby e fazer um curso de desenho, o que ligou meu desejo de trabalhar com quadrinhos.
OP - E em relação aos seus projetos mais recentes, o que você pode compartilhar sobre os seus últimos trabalhos?
Miguel - Em 2018, comecei a trabalhar com quadrinhos, inicialmente na parte de colorização. Trabalhei em diversos projetos, entre eles está o quadrinho "Um Dia". Além disso, publiquei minhas próprias obras, como "Linhas Brancas", que é uma história sobre a vida e a morte do meu cachorro.
OP- Você tem algum tema central ou algo que busque explorar nas suas obras?
Miguel - Em muitas das minhas obras, eu exploro as emoções humanas, desde sentimentos mais simples e cotidianos até os mais profundos, como a perda ou o amor. Essas emoções são universais e merecem ser expressas de maneira criativa. No caso das histórias que escrevo, tento tocar em temas que façam as pessoas refletirem sobre sua própria vida, suas relações e experiências.
OP- Diante a abertura recente de alguns empreendimentos de quadrinhos em Fortaleza, como você vê o crescimento da demanda desse estilo de conteúdo na cidade?
Miguel - De forma muito positiva. Fortaleza tem se tornado um centro crescente de quadrinhos, com novos espaços, lojas especializadas e um público que está se apaixonando mais por esse tipo de arte. Isso me influencia muito, porque amplia as possibilidades de mostrar meu trabalho e de trocar experiências com outros artistas.
OP - Como acontece o impacto do digital e do físico nos quadrinhos. Como você vê a convivência entre as duas formas de consumo?
Miguel - O digital facilita o acesso e a praticidade, mas o físico, especialmente para quem coleciona, tem seu valor. Muitas pessoas leem no digital, mas compram a versão física para ter em mãos, colecionar ou presentear. Acredito que as duas formas podem coexistir, sem anular uma à outra. O digital trouxe uma democratização do acesso, enquanto o físico mantém o valor de algo palpável, a experiência de ter o quadrinho na mão.
OP- O que você acredita que o quadrinho oferece que outras formas de comunicação não conseguem?
Miguel- O quadrinho tem uma dinâmica própria, uma combinação de palavras e imagens que cria uma imersão diferente. A maneira como o tempo é manipulado, o espaço em branco, as transições entre quadros, tudo isso cria uma experiência única. Você pode contar uma história de forma não linear, transmitir uma ideia ou até mesmo fazer poesia de um jeito que seria difícil em um livro ou filme.