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Falta de dados é empecilho no mercado de trabalho LGBTQIAP+ do Ceará
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Falta de dados é empecilho no mercado de trabalho LGBTQIAP+ do Ceará

Jovens também relatam esbarrar no preconceito na hora de pleitear uma vaga de emprego
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FEIRA da Empregabilidade LGBTI ocorreu ontem (Foto: Guilherme Freire/ Secretaria do Trabalho (SET))
Foto: Guilherme Freire/ Secretaria do Trabalho (SET) FEIRA da Empregabilidade LGBTI ocorreu ontem

A escassez de informações referentes à empregabilidade de pessoas LGBTQIAP+ no Ceará ainda é um desafio para a criação de políticas públicas.

Problemática constante, a conjuntura é motivada tanto pelo medo das pessoas de afirmarem sua sexualidade ou identidade de gênero, quanto pela própria falta de opção nos bancos de dados, já que, de acordo com a secretária da Diversidade, Mitchelle Meira, "toda política pública precisa de dados".

A titular da pasta afirma, por exemplo, que não há um cadastro nacional onde estejam disponíveis essas informações acerca dessa população. 

O que existe no Ceará, segundo Meira, é uma plataforma criada pela Secretaria do Trabalho (SET), por meio do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), na qual os indivíduos podem responder se querem se identificar ou não como LGBTQIAP+.

Entretanto, ela explica que “muitas vezes, as pessoas acham que, por colocar essa informação, ela seria um empecilho na hora de conseguir um contrato de trabalho”.

Conforme Mitchelle, o que estão sendo realizadas são políticas voltadas para a captação dessa população para o mercado, além de diálogos com as empresas, por meio, inclusive, da gerência de inclusão do IDT, para reforçar que esses locais precisam ser acolhedores.

Um exemplo de ação nesse sentido foi a Feira da Empregabilidade LGBTI+, a terceira realizada voltada para esse público, que ocorreu nesta segunda-feira, 17, na unidade do IDT/Sine Centro.

Na ocasião, foram ofertadas 47 vagas em 12 empresas parceiras, além de cursos de capacitação e um workshop realizado pela Hapvida e a M. Dias Branco. 

As oportunidades ofertadas são para:

  • Auxiliar de logística
  • Auxiliar de operações logísticas
  • Auxiliar de serviços gerais
  • Atendente
  • Oficina de etiqueta profissional
  • Operador de call center
  • Auxiliar de produção
  • Operador de máquina
  • Auxiliar de cozinha
  • Estoquista
  • Oportunidade de jovem aprendiz.

O IDT possui essa gerência de inclusão à diversidade desde 2023. Segundo o informado pelo gestor, Hilário Souza, nesses quase dois anos foram mais de 100 admissões realizadas. Porém, ele ressaltou que esse número pode ser bem maior, devido à dificuldade do mapeamento.

"Sempre tem a mesma mensagem: feliz pelo seu interesse, mas não vamos seguir com o seu currículo, optamos por outra pessoa"

As dificuldades para a inclusão das pessoas no mercado de trabalho vão muito além da capacitação dos indivíduos ou da existência de vagas no mercado, muitas vezes só o fato da pessoa ser LGBTQIAP+ já a exclui do processo. 

Isso ocorre com Pedro, estudante de administração de 21 anos. Mesmo tendo iniciado a faculdade e já possuindo experiência anteriores como jovem aprendiz e em empregos de carteira assinada, ele não consegue nem chegar na etapa de entrevistas com a área de recursos humanos (RH) das empresas. 

"A maior dificuldade passar para a próxima fase do processo, mesmo que a gente ajeite o Linkedin, eu não consigo passar. Sempre tem a mesma mensagem: feliz pelo seu interesse, mas não vamos seguir com o seu currículo, optamos por outra pessoa".

O jovem relatou ter precisado trancar o curso no Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi) por falta de oportunidades. Ele esteve na feira de empregos do IDT à procura de vagas na área da logística, marketing e comunicação, as quais já possui experiências anteriores.

Joan do Nascimento, de 21 anos, também expõe suas dificuldades dentro do mercado, explicando que nunca conseguiu um emprego, já ingressou em estágios, porém nenhuma ocupação formal.

O jovem reforça que isso ocorre tanto por sua personalidade mais retraída quanto por sua forma de se vestir com roupas "mais diferentes".

Ele disse estar na feira, em busca de vagas na área de vendas devido à necessidade de ingressar em uma ocupação com salário fixo.

Mapeamento de empreendedores LGBTQIAP+

Além das informações sobre mercado de trabalho formal, a secretária da Diversidade também explicou que está sendo realizado um mapeamento de empreendedores LGBTQIAP+ com intuito de saber se essa população possui acesso a crédito.

Ao todo a plataforma possui 148 cadastros. De acordo com Meire, a ideia atual é realizar um perfil dessas pessoas e identificar quais são suas maiores dificuldades dentro do empreendedorismo. Os dados adquiridos, segundo a titular da pasta, logo deve ser entregue.

Essa medida, entretanto, foi anunciada por Mitchelle ainda em junho de 2024. Na época ela afirmou que o levantamento seria realizado para ser apresentado para o governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), e fazia parte de um estudo para a implementação do "CrediLGBT", uma modalidade de crédito que seria específica para esse público e que deveria ter sido concretizada até o final do ano passado.

Gênero e diversidade

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