Natural de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste pernambucano, Mylena sempre esteve acostumada a pesquisar, esmiuçar e lecionar sobre a palavra. Graduada em Letras Vernáculas e suas Literaturas e doutora em Literatura e Interculturalidade, ambas pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Mylena chegou com mala e livros à Terra da Luz em 2024, a fim de lecionar na Universidade Estadual do Ceará (Uece), em Aracati.
Inspirada pelo Vale Jaguaribano, coincidentemente, o processo de escrita de seu primeiro livro, "Sangue de Cabra", também se deu com essa mudança de cidade. A imagem de uma menina assediada que tem seu vídeo viralizado, uma senhora que sonha com o fim sanguinário de um latifundiário e uma tragédia na cisterna que une duas irmãs. Essas são algumas das narrativas apresentadas no livro de estreia de Mylena, que, em nove contos, resgata violências, recomeços e a resistência feminina em meio à brutalidade do cotidiano.
A inspiração surgiu após uma oficina de escrita, que deu origem a "Menarca", primeiro conto publicado por Mylena. Nele, a autora radicada no Ceará relata a vivência de Ana, uma menina órfã que decide confrontar o tio abusador no mesmo dia em que tem sua primeira menstruação, a menarca.
Publicado em 2024, por meio do projeto Amora Assinaturas, o conto surgiu como um ponto de partida para inaugurar um novo formato de escrita que antes se restringia ao campo acadêmico.
"Essa escrita veio desse acúmulo de relatos de amigas e mulheres, além de sermos bombardeados com notícias e casos de violência contra a mulher e de feminicídio. No próprio meio acadêmico também me deparei com esses cenários de micromachismos. Então essas histórias, apesar de serem ficção, têm muito do real", pontua.
Ainda no rol de estímulos, em 2024, Mylena deu início a um projeto de autoria feminina e horror na Uece, a fim de fomentar entre as alunas da graduação de Letras a autoria de narrativas ficcionais que proporcionem essa mesma libertação que a escrita literária lhe proporcionou.
"Me sinto muito honrada e, ao mesmo tempo, sinto que estou possibilitando algo que eu gostaria de ter tido durante a minha graduação. Vejo alunas muito interessadas e engajadas, e de certa forma sei que isso é fruto desse novo campus da Uece, que surge no projeto de interiorização. Eu tive que sair da minha cidade porque não havia um campus universitário por lá. Então é muito gratificante estar trabalhando com essas questões no interior e sendo do interior", conta a docente de 34 anos.