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O sertão é punk
Farol

O sertão é punk

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Tipo Notícia

Nascida em Banabuiú, município do Ceará localizado a 210 km ao sul de Fortaleza, a relação de Aline com a palavra sempre foi de encantamento pelas rimas. Criada em uma casa com poucos livros, mas alguns cordéis, ainda jovem, ela gostava da brincadeira lúdica e sonora da homofonia, mas sem imaginar que sua vida se entrelaçaria com a literatura.

A perspectiva mudou durante o 2º ano do ensino médio, quando, em uma atividade literária, leu um conto seu pela primeira vez. Ao fim da aula, após a recepção positiva dos colegas e a insistência de um professor, Aline começou a escrever e a armazenar seus textos em um blog, mesmo que, à época, "ninguém lesse".

Quatorze anos se passaram, e da garota do blog, hoje, Aline Nobre chega à Bienal do Ceará com dois livros publicados, um em fase de produção e tantos outros cordéis, fanzines e contos produzidos.

Publicado em 2021, "Mulher Contestada" surgiu a partir de uma fanzine e foi lançado após uma chamada da editora paulista Brutal para narrativas LGBTQA . Em uma mistura de linguagens que une poemas a colagens, a obra explora a condição de ser uma mulher que ama outras mulheres, e as diversas contestações que surgem em meio ao processo de libertação.

No ano seguinte, revisitando também os processos pelos quais passou durante sua infância, Aline redigiu "Não existem borboletas na Antártica", um livro escrito em verso, com ilustrações da própria autora e um cordel no meio da narrativa. A história explora as metamorfoses que acontecem durante o amadurecimento, por meio de Maria Rita, uma menina que possui um grande fascínio por borboletas. Como pano de fundo, a obra aborda as mudanças climáticas, pauta que dialoga diretamente com a atuação de Aline enquanto engenheira ambiental.

A inspiração para esse formato livre de expressão surgiu após o contato da poeta com o sertão punk, movimento artístico que mistura gêneros para reimaginar uma visão futurista do Nordeste.

"O sertão punk é sobre a transgressão e, por isso, fiz um conto escrito ao inverso em sua maior parte. Cada ponto, cada parágrafo, cada linha foi pensada, pois o sertão punk não apenas quebra regras, mas também instaura novas regras dentro da literatura que você produz", elucida.

Nas fases finais da produção de sua terceira obra, "Mapa do miolo do vulcão", com planos para eventos de lançamentos por diversos municípios do Ceará em junho, Aline reforça o impacto de sua visão de mundo estar repercutindo na Bienal.

"Acredito que estar na Bienal é levar meu trabalho para mais longe, furar a bolha e ter um evento que intermedie a minha literatura para pessoas de uma realidade tão diferente. No fim, também referenda a relevância de estar na minha cidade, organizando e impulsionando eventos culturais locais nesses lugares que precisam", destaca.

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