Como as bibliotecas públicas impactam a promoção da leitura? Este foi o centro dos assuntos tratados pela educadora social Bel Santos Mayer em entrevista realizada nesta quinta-feira, 10, na Casa Vida&Arte, espaço do Grupo de Comunicação O POVO que integra a programação da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará.
Referência nas áreas de educação e literatura, a paulistana utiliza a leitura como ferramenta de transformação desde a juventude. Ela coordena, dentre a extensa lista de projetos desenvolvidos ao longo de 40 anos em ambos os setores, o Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC), organização social com objetivo de disseminar a cultura de direitos humanos por meio da transformação de territórios. A iniciativa foi vencedora do Prêmio Jabuti de fomento à leitura em 2024.
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“A questão que a biblioteca comunitária traz é que ela acontece em espaços em que geralmente o Estado não chegou com política pública. Ela nasce com uma ausência do Estado, uma ausência de políticas direcionadas aos livros e à leitura. Essa ausência se junta com o desejo de indivíduos ou de instituições que querem garantir esse direito humano”, explica.
Para que estes espaços tenham oportunidade de expansão, a educadora aponta a necessidade de ações interdisciplinares com foco na diversidade. “Biblioteca tem que ter algo que se chama bibliodiversidade. Tem que considerar diversidade de gênero, diversidade de autoria. Tem que ter livros escritos por autores jovens e autores que são jovens há mais tempo, autoria indigena, autoria negra, de toda a região do nosso País. Uma política pública que funcione para as bibliotecas comunitárias e periféricas tem que ser uma política que dê margem a cada território”, enfatiza.
A educadora ainda aponta que eventos como a Bienal Internacional do Livro do Ceará são fundamentais na construção de novas cadeias de leitores. Estes projetos, se compactuados com medidas governamentais e o chamado ativismo literário, avançam o incentivo à leitura e à escrita.
“Hoje, a gente vai continuar tendo situações de censura, mas a gente não tem mais quem ache que ler seja uma bobagem. Que alguém que saiba ler, que seja encantado pela literatura, é bobagem. A gente acabou de sair de um governo que não tinha Ministério da Cultura, mas digo que até eliminar um ministério é um reconhecimento da sua importância, se não tivesse importância, o ministério teria ficado ali. Tirá-lo é porque sabe que a literatura, a cultura, que a arte, de um modo em geral, discute as verdades”, complementa.
A Casa Vida&Arte segue recebendo ações até domingo, 13. Entre as atividades, estão previstas entrevistas, rodas de conversa e lançamento de livros. A próxima entrevista do Vida&Arte será realizada no sábado, 12, às 17 horas, com a escritora Kinaya Black. O evento será conduzido pela jornalista Eduarda Porfírio.
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