O Governo do Ceará investe diretamente cerca de R$ 800 mil por ano no programa CriarCE, uma incubadora ligada à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), voltada à prototipagem de ideias.
Já o programa Corredores Digitais, voltado à ideação e modelagem de negócios, recebe cerca de R$ 1,2 milhão anuais. Juntos, os programas impactam mais de 2 mil pessoas por ano, transformando ideias em produtos prontos para testes e comercialização.
Apresentar um produto inovador, com base em demandas reais da saúde pública e desenvolvido por profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde (SUS), é o objetivo do Demoday, evento que marca a reta final de um longo processo de fomento à inovação no Ceará.
Neste ano, o destaque são startups voltadas à área da saúde, como a AlertAlergo, que já recebeu três aportes públicos e agora busca novos investimentos para se consolidar no mercado.
“Esses programas são pensados para transformar problemas do cotidiano — inclusive do ambiente doméstico — em soluções com potencial de escala”, explica Sandra Monteiro, especialista em inovação e saúde, com atuação na Secitece.
Um dos diferenciais do Demoday, segundo Francisco Sales Ávila Cavalcante, diretor de Inovação da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP), é a origem dos inventores: profissionais do próprio SUS, formados pela escola, que identificam as lacunas do sistema e criam soluções com alto potencial de impacto.
“Aqui, a inovação nasce da prática. Os inventores são trabalhadores da saúde pública, que conhecem os desafios de perto”, afirma. Ele destaca ainda que, mais do que uma apresentação pública, o Demoday é uma prestação de contas à sociedade sobre o uso dos recursos investidos tanto financeiros quanto estruturais.
Além dos editais de incentivo, foram investidos mais de R$ 1 milhão em equipamentos da Escola de Saúde Pública. A estrutura inclui laboratórios de simulação realística, onde os protótipos são testados por profissionais especializados, antes mesmo de chegarem à fase clínica.
Entre os projetos apresentados no evento, está a startup AlertAlergo. Criada por um grupo de médicas e acadêmicas cearenses, a ideia é desenvolver um dispositivo que emite alerta para profissionais de saúde em casos de reações alérgicas graves.
O projeto recebeu aporte de dois editais da CriarCE e financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia, totalizando investimento de R$ 1,4 milhão.
“O apoio não foi apenas financeiro. A Escola de Saúde Pública nos deu acesso a testes simulados e ajudou a ajustar os protocolos do dispositivo”, conta a doutora Ingrid Correia, coordenadora da equipe. A startup, que despertou o interesse de investidores após o Demoday, está em fase de aprimoramento e regulamentação junto à Anvisa e à Anatel.
O grupo é formado por Ingrid Correia, Liana Jucá, Lorena Madeira e a acadêmica de medicina Ludmila Theisen. Os próximos testes clínicos serão realizados em parceria com a UniChristus, envolvendo equipes de emergência, alergistas e enfermeiros.
Sales Ávila explica que o Demoday cumpre um papel duplo. O primeiro é um momento simbólico de apresentação do amadurecimento das ideias, o “debut” das startups, mas também é uma vitrine prática para atrair olhares de investidores e instituições.
Na avaliação dele, o evento consolida a vocação inovadora da ESP, que em seus 31 anos de história sempre foi referência na formação de profissionais do SUS. “A inovação em saúde foi um passo natural para nós. Agora, unimos conhecimento acadêmico, experiência prática e tecnologia para impactar a vida das pessoas.”
1. Crias (R$ 800 mil/ano) – incubadora voltada à prototipagem de ideias;
2. Corredores Digitais (R$ 1,2 milhão/ano) – da ideação até o modelo de negócio;
3. Quatro fases do ciclo: Bora Criar, Bora Crescer, Bora Impactar, MVP;
4. Testes na ESP: simulações realísticas com protocolos clínicos;
5. Demoday: evento final com apresentação a investidores e instituições.