A guerra tarifária gerada e conduzida à mão de ferro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, é mais um capítulo de uma desastrada odisseia trumpista. Na prática, as sobretaxas têm efeito maléfico para economia global; desacelerando mercados e prejudicando serviços, inclusive os americanos e suas gigantes multinacionais.
Sob o pretexto de déficit comercial, desemprego e do medo da ascensão chinesa, Trump continua testando os limites dos EUA, enquanto molda o país à sua imagem e semelhança. Se dependesse dele, o ideal por trás do muro na fronteira com o México se estenderia economicamente, culturalmente e diplomaticamente a tudo aquilo que não o interessa.
Trump idealiza uma América autossuficiente, que se basta e que produza e consuma dentro de suas próprias fronteiras. O mantra do trumpismo parece transcender do "América Primeiro" (América First) para um irreal "Apenas a América" (Only América). Há apenas um problema, o 'projeto' é uma utopia que não se sustenta na atual dinâmica global.
O que é apresentado como um escudo vira uma faca de dois gumes no cenário global, ferindo adversários, aliados e a própria economia americana. Quando um player de peso aposta no caminho do isolacionismo, pode até provocar crises, mas abre brechas para um rearranjo global dentro da mesma dinâmica que tenta prejudicar. Num mundo de economias e sociedades cada vez mais interligadas, fica claro que ninguém joga xadrez sozinho.