A prisão de Fernando Collor na última sexta (25/4) fez o Brasil se transportar para o final dos anos de 1980 e início dos 1990, quando um país fraturado tentava se redemocratizar depois de um quarto de século de ditadura. Eram tempos de "Vale tudo", exibida originalmente entre 1988 e 1989, ano no qual o então candidato a "caçador de marajás" debatia com Lula na TV, no 2º turno da primeira corrida ao Planalto após o "estado de exceção".
Vê-lo atrás das grades em 2025, e não em 1994 (quando foi absolvido pelo mesmo STF que acaba de formar maioria para manter sua sentença), soa como se os roteiristas do país estivessem revisitando esse período para reparar erros flagrantes de enredo, impondo ao fluxo dos acontecimentos históricos o desfecho politicamente correto (veja-se o caso dos militares no banco dos réus por atentarem contra a democracia, por exemplo).
Mais de três décadas se passaram desde o impeachment - naquilo que se notabilizaria como esquema "PC Farias" -, e eis que Collor ressurge como mau aluno, incapaz de aprender as lições da vida republicana. A diferença é apenas de escala: sai o Fiat Elba, responsável por sua queda em 1992; entra a propina de R$ 20 milhões em contratos de uma subsidiária da Petrobras com uma construtora.
Mas há um elemento que adiciona tempero à novela, porém: a escaramuça "collorida" foi revelada pela finada Lava Jato, malquista entre ministros do Supremo no pós-2018, mas reavivada hoje por uma corte cujos humores em relação à força-tarefa variaram ao sabor das circunstâncias.