Logo O POVO+
Prefeitura retira famílias que viviam sob viaduto na Borges de Melo
Farol

Prefeitura retira famílias que viviam sob viaduto na Borges de Melo

| FORTALEZA | Moradores relatam perdas e dificuldades para encontrar novas moradias
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Moradores dizem que imóveis improvisados foram destruídos no início da manhã deste sábado (Foto: WhatsApp O POVO/Reprodução )
Foto: WhatsApp O POVO/Reprodução Moradores dizem que imóveis improvisados foram destruídos no início da manhã deste sábado

Em meio a denúncias de pressão e ameaças, a Prefeitura de Fortaleza realizou, na manhã de ontem, 27, a remoção forçada de famílias que viviam sob o viaduto da Avenida Borges de Melo, no Bairro de Fátima.

Conforme relatos dos moradores, que filmaram a ação, o processo de retirada dos barracos contou ao todo com a participação de equipes da Defesa Civil, caminhões, funcionários municipais identificados, policiais militares e guardas civis. No geral, foram derrubados e recolhidos entulhos de 46 moradias.

Populares contaram ao O POVO que, na tarde de sexta-feira, 25, dois homens sem identificação ofereceram R$ 420 para que as próprias famílias destruíssem seus barracos. O pagamento teria sido realizado de maneira informal, sem assinatura de documentos ou garantias de continuidade.

O valor oferecido seria correspondente à primeira parcela do programa Aluguel Social, mas não houve garantia de pagamento das demais mensalidades. Os relatos indicam que os moradores foram ameaçados pelos homens de ter suas moradias derrubadas com trator, caso não aceitassem a proposta. Muitas famílias, temendo a ameaça, começaram a desocupar a área.

Apesar da Prefeitura ter negado a ação, uma operação de remoção das famílias foi conduzida menos de 24 horas depois, iniciada por volta das 6h da manhã. Imagens feitas pelos moradores mostram os barracos destruídos, móveis espalhados pelas calçadas próximas e diversas famílias aglomeradas, incluindo bebês e crianças.

O valor de R$ 420 oferecido, segundo os moradores, é insuficiente para alugar uma residência, principalmente sem tempo hábil para buscar alternativas. "Os aluguéis são caros, mesmo dentro de comunidades. Como é que a pessoa vai pagar aluguel e ainda comprar comida? Ontem foi uma correria. Todo mundo chorando pra tentar alugar casa. Teve gente que dormiu na calçada", disse Ana Cláudia, que morava há cinco anos com os filhos sob o viaduto.

Durante a remoção, as famílias também denunciaram a perda de animais de estimação e móveis. Segundo eles, cachorros que viviam no local fugiram durante a operação. Sem conseguir alugar residências, muitos apontam a dificuldade de viver em abrigos, especialmente para quem tem crianças. Segundo eles, os locais abrigam diversas pessoas, incluindo algumas com comportamentos violentos.

Diante da ação, moradores cobram explicações da Prefeitura, indenização pelas perdas de móveis e a garantia de moradia digna. "A gente não tá lutando só por dinheiro. A gente quer um cantinho pra chamar de nosso. Um lar", desabafou Ana Cláudia.

Em entrevista à rádio O POVO CBN, o superintendente da Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis), Guilherme Magalhães esclareceu que, ao chegarem no local, os barracos já haviam sido derrubados. Segundo ele, "o que existia na parte da frente eram locais usados para consumo de drogas, não eram moradias". Já na parte de trás existiam moradias, já derrubadas. "Essas pessoas foram cadastradas pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento Habitacional (Habitafor)", explicou o superintendente.

Segundo Magalhães, a ação foi realizada com "cuidado", e que o acompanhamento social foi feito "local a local", incluindo o acolhimento de animais e que não havia ninguém morando no espaço no momento da intervenção. Também garantiu que, após a remoção, todas as pessoas cadastradas foram encaminhadas para novos locais de moradia e que a Prefeitura realiza um monitoramento constante para evitar a formação de novas moradias irregulares.

Em nota, a Agefis declarou que, assim como na operação realizada no viaduto da Avenida Dom Luís, a ação aconteceu sem intercorrências. A Habitafor acompanhou a ação e afirma que irá concluir, nos próximos 15 dias, a inscrição de todas as famílias que serão cadastradas no Aluguel Social.

O que você achou desse conteúdo?