Dedicação, disciplina e, acima de tudo, saúde mental. Esses são os alicerces que sustentam a trajetória de um jovem atleta universitário cearense que vem se destacando no cenário esportivo nacional.
Estudante do curso de Educação Física na Universidade Federal do Ceará (UFC), João Rocha não apenas representa a instituição em competições universitárias de alto nível, como também carrega o título de Atleta Universitário do Ano de 2024 — reconhecimento concedido pela Confederação Brasileira de Desporto Universitário e pela federação estadual.
Por trás das muitas medalhas e dezenas de conquistas, há uma história de superação, inseguranças e escolhas difíceis — como a decisão, ainda na adolescência, de seguir a carreira esportiva, apesar das incertezas e da resistência de parte da família. Desde 2014 nos tatames, o atleta cearense encontrou no esporte um caminho para canalizar sua energia e construir um propósito de vida.
Mais do que treinos e competições, ele fala sobre o impacto transformador do cuidado com a mente. Integrante do projeto "Mente Sã, Corpo São", ele realiza acompanhamento psicológico desde o ano passado e afirma que esse foi um divisor de águas em sua carreira e em sua vida pessoal.
Neste cenário, o céu é o limite. Sustentado nos desafios enfrentados pelos competidores do Norte e Nordeste diante da falta de investimento, João detalha ao O POVO seus planos para o ranking internacional e a mensagem que carrega consigo: lutar dentro e fora dos tatames é essencial — e, muitas vezes, as batalhas internas são as mais difíceis de vencer. Ademais, busca representar com autenticidade o Ceará no Campeonato Brasileiro da modalidade, em São Paulo, neste fim de semana.
O POVO – No esporte, seja qual for, além da parte técnica, conta o lado psicológico. No mundo da luta, como você trabalha esse aspecto?
João Rocha – Isso é o diferencial. Eu valorizo muito a parte mental. Sou universitário da UFC e participo do projeto "Mente Sã, Corpo São", do professor Léo Nepomuceno. Faço acompanhamento psicológico desde o ano passado. No meu caso, o mais difícil da trajetória é o psicológico, e estar trabalhando com isso alavancou muito minha performance e saúde mental também. O atleta enfrenta uma trajetória de inseguranças, então é de extrema importância um acompanhamento psicológico para quem pretende chegar ao topo.
OP – Como foi o seu início dentro do jiu-jitsu? Teve alguma resistência por parte da família?
João – Eu comecei a treinar em 2014. Meu irmão de consideração já treinava em um projeto social e me chamou pra fazer um treino. Minha mãe queria que eu fosse porque eu era muito hiperativo, e aí eu comecei, até então, como hobby.
Em 2018, eu completei 14 anos e decidi que queria ser atleta. Falei com toda a minha família sobre isso, e sempre tem aquela preocupação, né? A galera não gostou muito disso inicialmente, menos meu pai. Ele disse que o que me fizesse feliz, o deixava feliz também. Ele foi meu maior apoiador.
OP – O jiu-jitsu é uma das artes marciais mais importantes do mundo e também uma das mais praticadas. Como você vê o cenário no Ceará?
João – O cenário competitivo é muito bom. Vejo muito atleta com potencial, mas sem investimento. Em São Paulo e no Rio (de Janeiro), a gente vê muito mais investimento para os atletas, além de a maioria das competições importantes serem no Sudeste, o que dificulta ainda mais o acesso desses atletas que são bons, mas que não têm recursos. Graças a Deus, eu consegui vir dessa vez. Fiz uma rifa, foi um desenrolo grande. Ano passado eu não consegui, por conta de grana.
OP – Passado o Brasileiro, quais são seus planos para o futuro?
João – Quero acumular pontos na federação de Abu Dhabi pra subir no ranking e estou tentando me organizar para lutar o Campeonato Europeu, em janeiro de 2026. Além disso, competir todo mês para manutenção também.
OP – Qual conselho você daria para um jovem que busca começar no mundo da luta?
João – Só existe um segredo — e pode parecer clichê, mas é a mais pura verdade: independentemente do que você enfrentar, não desista do propósito. Mantenha-se lutando nas batalhas fora dos tatames; elas são as que mais machucam. Querer desistir... chega um momento em que todo mundo pensa nisso. Eu mesmo quis desistir quando perdi meu pai e foi muito difícil na época. Mas é importante seguir lutando, mesmo quando não conseguir — e fazer acompanhamento psicológico também. É extremamente importante.