No Brasil, segundo um levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a depressão pós-parto atinge 25% das mães. Esse índice é maior do que os números da Organização Mundial da Saúde (OMS), que mostram que entre 10% e 20% das mulheres em países de baixa renda apresentam problemas emocionais após o parto.
É o caso de Clarice Oliveira (nome fictício), 41 anos, que foi diagnosticada com depressão pós-parto assim que sua filha, hoje com sete anos, nasceu. Ela conta que, no início, não conseguia entender o que acontecia com ela, sentindo cansaço e apatia que iam além da exaustão física.
Clarice relata que não sentia vontade de cuidar de sua bebê, muito menos de amamentá-la — tanto que houve a necessidade de usar fórmula complementar. "Quando comentei com minha obstetra sobre esses sentimentos, ela me encaminhou imediatamente para acompanhamento psiquiátrico e psicológico. Confesso que fiquei assustada com a urgência do encaminhamento", relatou.
Oliveira comenta ainda que o processo foi doloroso, mas o acompanhamento profissional a salvou e mostrou que a cura não é linear, mas possível. "Hoje não faço mais tratamento ativo, mas carrego no coração cada aprendizado que a terapia me proporcionou. O acompanhamento psicológico foi minha âncora nos momentos mais turbulentos — ele me ajudou a entender que aquela fase dolorosa não era meu destino, mas sim parte da minha evolução como mulher, pessoa e, principalmente, como mãe".
Durante esse período, é fundamental que a mulher tenha uma rede de apoio para que possa cuidar, maternar e ter uma boa relação com seu bebê. Nesse caso, ser apoio para a mãe vai além de ajudar nas tarefas diárias. É validar sentimentos, ouvir sem julgamento, ser presença real e oferecer afeto.
A ausência dessa rede pode abrir espaço para o surgimento de alterações emocionais importantes. Milena Bonfim pontua que vivemos em uma sociedade acelerada, em que todos estão sempre correndo. "Muitas mães estão no mercado de trabalho, as famílias são menores e ninguém parece ter tempo para nada. Nessa realidade, doar tempo para cuidar do outro se torna algo raro, e isso traz de volta a sensação de solidão materna".
A psicóloga Camilla Alves explica que maternar é um evento coletivo e não deve ser considerado individual, por isso a necessidade de uma rede de apoio para que a mãe não passe pelo processo sozinha. "A rede de apoio é fundamental quando consideramos os números relacionados à saúde mental materna no país. Esse acolhimento é essencial para que a mulher consiga estar disponível para oferecer os cuidados necessários ao seu bebê", detalha.