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Quais as chances de Biden deixar a corrida presidencial
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Quais as chances de Biden deixar a corrida presidencial

Aos 81 anos, Biden tem sua capacidade cognitiva questionada para continuar na disputa. Primeiro debate fez com que democratas cogitassem troca nos bastidores, embora cúpula do partido descarte possibilidade
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O presidente dos EUA, Joe Biden, durante uma visita ao Centro de Operações de Emergência de DC em Washington, DC, 2 de julho de 2024. Jim WATSON / AFP (Foto: Jim WATSON / AFP)
Foto: Jim WATSON / AFP O presidente dos EUA, Joe Biden, durante uma visita ao Centro de Operações de Emergência de DC em Washington, DC, 2 de julho de 2024. Jim WATSON / AFP

O desempenho pífio do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no primeiro debate eleitoral na TV contra o ex-presidente Donald Trump foi um choque de realidade política. O palco do duelo foi a sede da CNN, em Atlanta, onde ambos tinham o desafio de manter seus públicos fiéis e engajados.

Mais do que um espaço para propostas, o debate era sobre manter a confiança junto ao eleitorado. E foi um desastre para o presidente e para os democratas, que viram um Biden fragilizado em campo, mediante um Trump tão ofensivo quanto em 2020.

Aos 81 anos, Biden tem sua capacidade cognitiva questionada para continuar na disputa. O presidente tem protagonizado repetidas gafes em agendas públicas, onde aparece aparentemente desnorteado e perdido.

Esses episódios deram munição ao trumpismo, que com tons de deboche e mesmo etarismo, utiliza o argumento da idade para invalidar a candidatura do presidente. A questão é que, após o debate, os democratas também passaram a questionar ainda mais a fragilidade de Biden.

Embora a cúpula do partido descarte possibilidade de troca, as pesquisas eleitorais nos Estados Unidos já mostravam que a idade seria um fator na eleição deste ano. Há questões, claro, mais relevantes, como a economia e o próprio antitrumpismo.

Especialistas ouvidos pelo O POVO projetaram as próximas movimentações envolvendo a candidatura democrata e o que esperar do cenário eleitoral a quatro meses do pleito. Iago Caubi, pesquisador vinculado ao Núcleo de Pesquisa de Geopolítica, Integração regional e Sistema mundial (GIS-UFRJ), diz ser remota qualquer possibilidade de Biden deixar a corrida presidencial e aponta a polarização como um fator favorável à manutenção do seu nome.

“Biden possui o apoio da esmagadora maioria dos delegados. Assim como Trump, ele alimentou a bipolaridade para fortalecer seu próprio capital político através da percepção de que apenas um pode substituir o outro. Essa retórica é usada pelos dois e beneficia os dois, salvo as diferenças nos discursos”, explica.

Caubi ressalta que o partido democrata sabia das fragilidades de Biden e optou por não construir alternativas, lembrando da vice-presidente, Kamala Harris, que teve atuação apagada na gestão.

“Nem mesmo a vice, que foi apontada em algum momento como substituta de Biden, teve espaço. Pelo contrário, mesmo após o fiasco de Biden no debate, Harris preferiu manter sua defesa irrestrita a ele. Acredito que o Partido Democrata está encurralado em sua própria estratégia de apostar todas as fichas em Biden e sufocar potenciais lideranças internas com o pretexto de mostrar unidade”.

Paralelamente ao cenário desastroso do pós-debate, líderes democratas finalizaram planos para nomear formalmente Biden, antes mesmo da convenção democrata. Uriã Fancelli, especialista em Relações Exteriores e analista internacional, considera que a atitude limitaria discussões sobre candidatos alternativos, mas alerta que a preocupação já se instalou no partido.

“Muitos democratas estão pessimistas quanto às chances de Biden na eleição geral, temendo que sua candidatura enfraquecida possa levar a uma derrota devastadora contra um adversário forte”, ressalta Fancelli, argumentando que a questão central não é a idade de Joe Biden, que teria 86 anos no fim de um possível segundo mandato, mas o estado cognitivo do presidente.

“Assim como existem pessoas que aos 100 anos podem estar com a cognição impecável, há pessoas muito mais jovens que Biden que já apresentam dificuldades. Portanto, as principais preocupações são em relação à capacidade mental de Biden”, destaca.

Pesquisas já mostravam uma crescente preocupação da população em relação à disposição e cognição do presidente. “O debate, que deveria reverter essa percepção, acabou por acentuá-la, deixando claro para muitos eleitores as dificuldades”, conclui Uriã.

A percepção pública sobre esse fator acarretou mudanças na estratégia de campanha, com Biden admitindo ter dificuldades. A equipe do presidente argumenta que a percepção de competência não será decisiva nas urnas, apostando que os eleitores serão motivados pelo histórico da gestão e por uma eventual aversão a um segundo mandato de Trump.

Escolha feita pelos americanos "determinará o destino da geopolítica global”, aponta analista

A praticamente quatro meses da eleição presidencial nos Estados Unidos, marcada para 5 de novembro, o mundo observa atento aos desdobramentos da política americana. Joe Biden e Donald Trump devem ser confirmados como candidatos nos próximos meses, nas convenções nacionais dos partidos, mas as especulações que envolvem o pleito se intensificaram após o primeiro debate, no qual o democrata mostrou dificuldades e o republicano usou estratégia similar à de 2020, com alegações infundadas e postura ofensiva contra adversários.

Analistas ouvidos pelo O POVO analisaram a eleição presidencial dos Estados Unidos como um "cenário de polarização extrema" no qual os norte-americanos terão que escolher entre um candidato que dá sinais de fragilidade cognitiva e outro que demonstra desprezo pela democracia.

É importante ressaltar que o voto nas eleições americanas não é obrigatório e ocorrem no meio da semana. Então o maior desafio de um presidenciável será fazer com que as pessoas saiam de casa para votar. Sobretudo na disputa por estados conhecidos como “swing states”, que ora votam com democratas ,ora com republicanos, e que serão decisivos para o resultado final.

“Trump é visto por parte da população como a última esperança para um país que ele mesmo pinta como estando à beira do colapso. Esta eleição não apenas decidirá o futuro dos Estados Unidos, mas também poderá redefinir a ordem mundial”, destaca Uriã Fancelli, analista internacional.

Ele aponta que como maior economia do planeta, principais apoiadores da Ucrânia contra o expansionismo de Vladimir Putin e grandes aliados de Israel no Oriente Médio, o rumo eleitoral nos Estados Unidos é crucial para o mundo em diversos segmentos. “A escolha feita pelos americanos determinará o destino da geopolítica global”, destaca.

Os especialistas dizem ser cedo para apontar favoritismo, mas a crescente de notícias sobre a fragilidade de Biden pode ser o começo de uma virada de chave. Iago Caubi, pesquisador da UFRJ, destaca que o tema está ganhando espaço no eleitorado americano e soma-se a outros fatores.

"Boa parte do movimento antiTrump não era necessariamente pró-Biden e se decepcionou com o governo. Biden corre para reviver esse movimento, mas agora é governo e não oposição. Então é mais fácil de ser atacado do que atacar. O maior desafio, ao meu ver, para ambos os lados, será mobilizar o eleitorado indeciso e que não está disposta a votar nas eleições. Até agora, Biden não demonstrou tanta força quanto antes".

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