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Macron pede a premiê que continue no cargo ante o limbo político na França
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Macron pede a premiê que continue no cargo ante o limbo político na França

| Eleições legislativas | Primeiro-ministro Gabriel Attal ofereceu o cargo após nenhum dos três grandes blocos políticos não conseguirem a maioria necessária para formar um governo
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PARIS está a menos de três semanas de sediar os Jogos Olímpicos (Foto: JULIEN DE ROSA / AFP)
Foto: JULIEN DE ROSA / AFP PARIS está a menos de três semanas de sediar os Jogos Olímpicos

O presidente francês, Emmanuel Macron, pediu nesta segunda-feira, 8, ao seu primeiro-ministro, Gabriel Attal, que continue no cargo "por enquanto" para manter a credibilidade da França, depois do fracasso da sua aposta de antecipar as eleições para destravar a situação política.

O presidente chocou a França com a antecipação inesperada das eleições legislativas após a vitória da extrema direita nas eleições europeias de 9 de junho, com o objetivo de pedir um "esclarecimento político" aos eleitores.

Os eleitores responderam concedendo uma nova relação de forças aos três blocos surgidos das eleições de 2022: esquerda, centro e extrema direita. No entanto, nenhum lado alcançou a maioria absoluta de 289 deputados.

A coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) obteve 182 deputados, seguida pela aliança de centro Juntos de Macron (162) e pelo partido de extrema direita Reagrupamento Nacional (RN) e seus aliados (143).

Estes resultados e os vetos cruzados entre o grupo no poder e A França Insubmissa (LFI), partido radical de esquerda e principal no bloco do NFP, complicam a formação de um novo governo, 18 dias antes dos Jogos Olímpicos de Paris. Diante da incerteza, o presidente pediu a Gabriel Attal, que apresentou a sua renúncia, que continue no cargo "por enquanto" para "garantir a estabilidade".

Os líderes de esquerda garantiram, no entanto, que estão prontos para governar e o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, defendeu que o NFP apresente um candidato a primeiro-ministro "ao longo da semana", escolhido "por consenso ou por voto".

Mas para permanecerem no poder precisam de uma maioria e, dentro desta coalizão que vai desde social-democratas até anticapitalistas, os seus membros discordam sobre possíveis alianças parlamentares.

O líder da LFI, Jean-Luc Mélenchon, cristaliza algumas das tensões e a possibilidade de ele ser primeiro-ministro gera rejeição. Nesta segunda-feira, Mélenchon declarou à emissora LCI que seu partido tem "vários candidatos a propor" para o cargo de premiê.

"Teremos que nos comportar como adultos", alertou no domingo Raphaël Glucksmann, símbolo da ala social-democrata do NFP, para quem o "diálogo" é "uma mudança de cultura política" em uma França desacostumada ao parlamentarismo.

O partido de direita Os Republicanos (LR), que obteve 46 deputados depois de uma parte ter feito um acordo com a extrema direita, já garantiu que "não haverá coalizão, nem compromisso" de sua parte.

"Nem esperanças nem ilusões"

Depois de uma campanha tensa, na qual Macron acusou a LFI de ser "antissemita" e "antiparlamentar", a sua aliança prefere uma coalizão de forças "republicanas", sem o RN ou o partido de Mélenchon.

O programa do NFP também inclui várias linhas vermelhas para a aliança governante e a centro-direita, como a revogação da impopular reforma da Previdência de 2023 e a aprovação de um imposto sobre grandes fortunas.

Em meio ao limbo político, o ministro da Economia, Bruno Le Maire, alertou contra o risco de "crise financeira" e "declínio econômico", e a principal associação patronal francesa, Medef, pediu ao próximo governo "uma política econômica clara e estável". A Bolsa de Paris fechou nesta segunda-feira com queda de 0,63%.

Mas um novo governo ainda pode levar algum tempo para chegar. Macron anunciou que, antes de nomear um novo primeiro-ministro, vai esperar para ver como estará "estruturada" a Assembleia Nacional (câmara baixa), que será instalada em 18 de julho.

Isolada e derrotada graças à "frente republicana" que a esquerda e a aliança governista teceram no segundo turno, a extrema direita deverá se tornar a principal força de oposição.

"A maré está subindo. Desta vez não subiu o suficiente, mas continua a subir e, como resultado, a nossa vitória apenas foi adiada", alertou a sua líder, Marine Le Pen, que espera tornar-se presidente da França em 2027.

O seu protegido, Jordan Bardella, que foi projetado como primeiro-ministro, presidirá o novo grupo de extrema direita no Parlamento Europeu, "Patriotas pela Europa", lançado pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán.

As eleições foram acompanhadas de perto fora da França, especialmente quando esta potência nuclear e a segunda maior economia da União Europeia é uma das forças motrizes da integração do continente e uma aliada da Ucrânia na sua guerra contra a Rússia.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comemorou que a França "rejeitou o extremismo". A Presidência russa disse não ter "nem esperanças nem ilusões" sobre uma melhoria nas relações com Paris.

 

Sem resolver a crise política, França se dispõe a 'receber o mundo' durante os Jogos Olímpicos

Apesar de evitar o perigoso cenário de uma coabitação com a extrema direita, a França segue na incerteza política a pouco mais de duas semanas do início dos Jogos Olímpicos (de 26 de julho a 11 de agosto).

O presidente do Comitê Organizador do Paris-2024 "Tony Estanguet deve estar muito feliz(...) Certamente, não teria sido o mesmo ter que administrar os Jogos com (o líder da extrema direita) Jordan Bardella a seu lado", afirma David Roizen, especialista em temas olímpicos da Fundação Jean-Jaurès.

Qual será o governo nos Jogos?

No entanto, após os resultados do segundo turno das legislativas, nas quais o bloco de esquerda venceu sem maioria absoluta, à frente da coligação governamental e com a extrema direita na terceira posição (apesar de ter recebido o maior número de votos na semana anterior), muitas questões permanecem no ar: quem será o primeiro-ministro e com que governo?

A ministra do Esporte, Amélie Oudéa-Castéra, ainda estará no cargo quando os Jogos começarem? "Deveria haver continuidade do governo até os Jogos", avalia Roizen.

Neste momento, tudo parece caminhar nessa direção. O primeiro-ministro Gabriel Attal apresentou nessa segunda-feira sua demissão ao presidente francês, mas Emmanuel Macron pediu-lhe que continuasse "por enquanto" para "garantir a estabilidade" da França, informou a Presidência.

No entanto, o bloco de esquerda, que se formou para impedir o avanço da extrema direita, já considera candidatos para substituir Attal depois de vencer as eleições de domingo, embora sem uma maioria clara para governar.

Contar com "a continuidade do Estado"

A continuidade do ministro do Interior, Gérald Darmanin, responsável pelo sistema de segurança dos Jogos, também não está certa.

"O que os organizadores (dos Jogos) mais temem são coisas como vandalismo, crimes e, acima de tudo, terrorismo", disse à AFP Paul Dietschy, professor de História e Esportes da Universidade de Franche-Compté. "O ministro do Interior é o cargo mais importante", insiste.

Nos últimos dias, os organizadores tentaram tranquilizar todas as partes: "Não paramos de trabalhar, dia e noite, nestas últimas semanas, para estarmos prontos".

E lembraram que os Jogos podem contar com "a continuidade do Estado" que depende do chefe da polícia de Paris (Laurent Nunez), da região (Marc Guillaume) e do delegado interministerial para os Jogos Olímpicos (Michel Cadot), que formam um bloco que protege Paris-2024 do que acontece a nível político.

Outro aspecto que ajudará no controle da segurança é o fato de que a ameaça de grandes manifestações, até mesmo de distúrbios, em caso de uma vitória da extrema direita, parece estar por enquanto descartada.

Retornar o foco para o evento olímpico

Ao dissolver o Parlamento após a vitória da extrema direita nas eleições europeias no início de junho, Macron concentrou toda a atenção da mídia na crise política.

"Não sentimos o entusiasmo crescendo. Muitos franceses estão concentrados nas eleições", admite Dietschy.

Embora a situação política permaneça incerta, já há o suficiente para que a atenção volte aos Jogos, prometidos como "icônicos" por seus organizadores, com 2,6 bilhões de dólares de investimento público (14,29 bilhões de reais na cotação atual), os cenários mais emblemáticos do país, em uma das cidades mais turísticas do mundo.

De novato vitorioso, Macron agora está enfraquecido

A trajetória política de Emmanuel Macron na França mudou significativamente desde sua eleição como presidente. Inicialmente, o presidente mais jovem da França ganhou destaque por suas iniciativas pró-União Europeia (UE) e esforços diplomáticos. No entanto, agora ele tem enfrentado desafios crescentes que ameaçam sua capacidade de governar de forma eficaz.

Macron é constitucionalmente impedido de concorrer a um terceiro mandato consecutivo em 2027. Sua aliança centrista ficou em segundo lugar no segundo turno das eleições legislativas no domingo, após um desempenho abaixo do esperado no primeiro turno, o que sugere uma rejeição de sua gestão pelos eleitores.

Sem uma maioria clara de nenhum dos blocos na Assembleia Nacional, a necessidade de formar um governo de coalizão agora pode limitar severamente a capacidade de Macron de implementar suas propostas. Governos de coalizão são raros na França, o que adiciona incerteza ao cenário.

Macron tem sido um ator ativo na política externa, se envolvendo em questões como o apoio à Ucrânia e esforços diplomáticos no Oriente Médio. No entanto, sem uma maioria parlamentar, seu papel pode ser limitado internamente.

Eleito pela primeira vez em 2017, ele implementou reformas no mercado de trabalho e reduziu impostos para empresas. No entanto, enfrentou protestos significativos e foi criticado por suas políticas consideradas favoráveis aos mais ricos.

PROTESTOS

Apesar de ter sido reeleito em 2022, Macron perdeu sua maioria parlamentar. Seu plano de aumentar a idade de aposentadoria gerou protestos, afetando sua liderança. Protestos recentes e a decisão de dissolver a Assembleia Nacional após as eleições do Parlamento Europeu geraram críticas até de aliados do presidente

Macron, que começou sua carreira como banqueiro antes de entrar na política, enfrenta agora um período de incerteza. Seu destino e capacidade de influenciar a política francesa e internacional estão em questão, especialmente com a proximidade da cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que começa hoje e na qual a liderança francesa pode parecer enfraquecida em comparação com a de outros líderes mundiais.

Le Pen e Orban somam forças em novo grupo de extrema direita

O novo bloco de extrema direita no Parlamento Europeu, Patriotas pela Europa, impulsionado pelo húngaro Victor Orbán e a francesa Marine Le Pen, foi lançado nesta segunda-feira, 8, com o objetivo de ter a terceira maior bancada do Parlamento Europeu.

O novo bloco político será presidido pelo eurodeputado francês Jordan Bardella, líder do partido Reagrupamento Nacional, que no domingo ficou em terceiro lugar nas eleições legislativas na França.

O bloco Patriotas pela Europa foi impulsionado e iniciado com Orban, mas foi a adesão de 30 deputados do Reagrupamento Nacional que o tornou uma das principais bancadas do Parlamento Europeu.

Com 84 membros de 12 países, o novo bloco ultrapassa a bancada de extrema direita liderada pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni.

Caso esse número se confirme, o bloco do Patriotas pela Europa estaria em condições de disputar com o Renovar Europa (de liberais e centristas) a condição de terceira maior bancada.

O Partido Popular Europeu (PPE, direita) segue tendo a maior bancada do Parlamento Europeu, à frente dos Socialistas e Democratas (S&D, social-democratas).

Nesta segunda, na sede do Parlamento Europeu, os partidos que confirmaram sua adesão ao bloco finalizaram as negociações para constituir seu quadro diretivo, antes de lançar formalmente o grupo político.

A eurodeputada húngara Kinga Gal, eleita primeira vice-presidente do grupo, disse que o "objetivo de longo prazo é mudar a forma de fazer política na UE".

Além disso, disse a legisladora, os partidos do bloco se comprometem a trabalhar juntos "para preservar nossas raízes indo-cristãs". (AFP)

"Espero que Macron e esquerda da França façam acordo", diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem esperar que o grupo político do presidente francês, Emmanuel Macron, e as forças de esquerda do país europeu possam chegar a um acordo para governar.

O segundo turno das eleições legislativas francesas foram realizadas no domingo. Os blocos de esquerda e de Macron conseguiram ficar à frente da extrema-direita, liderada por Marine Le Pen, mas nenhum dos dois grupos conseguiu maioria absoluta das vagas em disputa.

"Espero que o meu amigo Macron, que meu amigo Mélenchon Jean-Luc Mélenchon, líder do França Insubmissa, que meu amigo François Hollande e tantos outros companheiros na França se coloquem de acordo para montar um governo que possa atender aos interesses do povo francês", declarou.

Há o temor de que a França fique ingovernável com o Legislativo dividido em três grandes blocos. Esquerda e centro fizeram acordos eleitorais para barrar o avanço da extrema direita, mas têm muitas divergências programáticas.

Lula mencionou a união contra o grupo de Le Pen. "Quando parecia que tudo estava confuso, tudo estava dando errado, o povo se manifesta, vai para a rua e diz 'queremos que os setores democráticos continuem governando a França'", comentou. (Agência Estado)

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