Logo O POVO+
Oposição se mobiliza na Venezuela após protestos deixarem 11 mortos
Mundo

Oposição se mobiliza na Venezuela após protestos deixarem 11 mortos

| Eleição sob suspeita | Governo Maduro aumenta repressão contra opositores; Lula e Biden cobram publicação de atas eleitorais
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
OPOSITORES de Maduro participaram de comício convocado por Edmundo Gonzalez Urrutia e Maria Corina Machado, em Caracas (Foto: JUAN BARRETO / AFP)
Foto: JUAN BARRETO / AFP OPOSITORES de Maduro participaram de comício convocado por Edmundo Gonzalez Urrutia e Maria Corina Machado, em Caracas

Aos gritos de "Liberdade!", milhares de opositores saíram às ruas da Venezuela nesta terça-feira, 30, para reivindicar a vitória de Edmundo González Urrutia nas eleições presidenciais, após protestos reprimidos pelo governo de Nicolás Maduro que resultaram em 11 mortos e centenas de presos.

Apoiadores de González Urrutia e da líder opositora María Corina Machado se concentraram em Caracas e em outras cidades venezuelanas para contestar o resultado do pleito de domingo, que, segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), alinhado ao governo, concede um terceiro mandato ao chavista Maduro.

Liderada por Corina Machado, a oposição afirma ter provas da sua vitória, enquanto a comunidade internacional pressiona por uma recontagem transparente dos votos.

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Joe Biden, cobraram a apresentação das atas de votação, ressaltando que as eleições na Venezuela representam “um momento crítico para a democracia no hemisfério”. Ambos conversarem por telefone sobre a situação.

"Os dois líderes coincidiram na necessidade de que as autoridades eleitorais venezuelanas divulguem de forma imediata informações eleitorais completas, transparentes e detalhadas de cada centro de votação", disse a Casa Branca em um comunicado.

O Planalto informou, por sua vez, que "Lula reiterou que é fundamental a publicação das atas eleitorais do pleito ocorrido no último domingo" e que "Biden concordou". Biden "agradeceu a Lula por sua liderança" na questão da Venezuela, acrescentou a Casa Branca.

Em suas primeiras declarações sobre o assunto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva minimizou nesta terça-feira, 30, o processo eleitoral na Venezuela, contestado e sob suspeita de fraude, que proclamou a vitória do ditador Nicolás Maduro. Segundo Lula, há uma proposta de que Brasil, México e Colômbia assinem uma nota conjunta sobre o resultado.

Em entrevista à TV Centro América, de Mato Grosso, Lula disse não ter visto "nada de grave" ou "anormal". O petista, porém, condicionou a entrega das atas - documentos que são extraídos das urnas - ao reconhecimento do resultado que proclamou a reeleição de Maduro.

"Não tem nada de grave, nada assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a terceira guerra mundial. Não tem nada de anormal Teve uma eleição. Uma pessoa disse que teve 51%. Uma pessoa disse que teve quarenta e pouco por cento. Um concorda, outro não", disse Lula.

"Como resolve essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida entre oposição e situação, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça andar o processo.

O Brasil enviou a Caracas para as eleições o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, o ex-chanceler Celso Amorim.

"Amorim esteve com Nicolás Maduro e Edmundo González Urrutia e reiterou a posição do Brasil de seguir trabalhando pela normalização do processo político", informou o Planalto no comunicado.

María Corina afirma possuir cópias de 84% das atas, que provariam a fraude, e as publicou em um site.

Pedido de calma

Durante a concentração em Caracas, González Urrutia pediu calma à Força Armada, após a morte de 12 civis em protestos, nos quais dezenas de pessoas ficaram feridas. "Senhores da Força Armada: não há razão alguma para reprimir o povo da Venezuela, não há motivo para tanta perseguição", disse o rival de Maduro nas eleições.

O presidente responsabilizou Urrutia e Machado pela violência nas manifestações e garantiu que "a justiça vai chegar". "Responsabilizo o senhor, González Urrutia, por tudo o que está acontecendo na Venezuela, pela violência criminosa, pelos delinquentes, pelos feridos, pelos mortos, pela destruição", disse ontem Maduro, no palácio presidencial de Miraflores.

"A justiça será feita contra diabos e demônios. Haverá justiça. Saia da sua guarida, senhor covarde!", gritou o presidente mais tarde referindo-se a Urrutia e María Corina, diante de centenas de apoiadores que se concentraram em frente ao palácio.

O alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, e o responsável pela diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediram respeito à manifestação pacífica dos opositores.

"Número alarmante"

A ONG de defesa dos direitos humanos Foro Penal relatou que pelo menos 11 civis morreram nos protestos, incluindo dois menores de idade. "Preocupa-nos o uso de armas de fogo nestas manifestações. O fato de terem ocorrido 11 mortes em um único dia é um número alarmante", considerou Alfredo Romero, diretor da Foro Penal.

O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, também relatou a morte de um militar e anunciou que 749 pessoas foram detidas.

A ONG Encuesta Nacional de Hospitales informou que 84 civis ficaram feridos nos protestos, enquanto o Ministério da Defesa mencionou que 23 militares sofreram ferimentos. O líder opositor Freddy Superlano foi preso hoje, no que a oposição chamou de "escalada repressiva".

A Força Armada, principal apoio do governo, expressou "lealdade absoluta e apoio incondicional" a Maduro, declarou o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino, que respaldou a tese de golpe contra o presidente.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, pediu que aqueles que questionam e denunciam uma fraude eleitoral "não metam o nariz" nos assuntos internos da Venezuela.

O governo venezuelano expulsou o pessoal diplomático de Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, em resposta ao que considera "ações intervencionistas" desses países.

Seis colaboradores de María Corina estão refugiados há seis semanas na embaixada argentina. A líder de oposição denunciou um cerco policial à sede diplomática. A Argentina afirmou que se trata de "assédio" contra sua sede diplomática.

O que você achou desse conteúdo?