Logo O POVO+
A PARTIDA DE FRANCISCO
Mundo

A PARTIDA DE FRANCISCO

| ADEUS AO PAPA | Após 12 anos de um pontificado marcado pela defesa da paz e uma improvável recuperação médica, Jorge Mario Bergoglio cumpre missão de dar sua última bênção de Páscoa
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Última aparição pública de Francisco aconteceu no Domingo de Páscoa na sacada principal da Basílica de São Pedro, no Vaticano (Foto: AFP/VATICAN MEDIA)
Foto: AFP/VATICAN MEDIA Última aparição pública de Francisco aconteceu no Domingo de Páscoa na sacada principal da Basílica de São Pedro, no Vaticano

Foram pelo menos 65 dias de luta para cumprir a última missão de um pontificado de 12 anos marcado pela defesa da paz e da tolerância, pela promoção de reformas na Igreja Católica e pelo enfrentamento de uma forte oposição da ala mais conservadora do clero.

Ao ser internado com um quadro grave de bronquite no dia 14 de fevereiro, que, posteriormente, evoluiu para uma pneumonia nos dois pulmões, parecia improvável que Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, recebesse alta a tempo de desejar no último domingo, 20 de abril, uma Feliz Páscoa a milhares de fiéis católicos em Roma e cerca de 1,4 bilhão espalhados pelos cinco continentes.

A morte logo nas primeiras horas da manhã de ontem, 21, pareceu confirmar que, além do apoio da medicina mais moderna à disposição, Francisco tinha esse último intuito como missão pessoal.

“Ele não morreu isolado no hospital, distante do resto do mundo, teve tempo de retornar, dar sua bênção, viver a Páscoa”, disse a uma agência internacional de notícias, uma fonte do Vaticano, estado soberano encravado na cidade de Roma.

O papa, o primeiro pontífice católico nascido nas Américas, havia recebido alta no dia 23 de março, após mais de um mês internado e levaria, pelo menos, mais dois meses de um longo e gradual processo de recuperação, conforme previsão médica, para voltar a exercer suas funções religiosas de forma plena.

Não foi o que aconteceu, mas Francisco conseguiu viver e expressar suas últimas mensagens em um dos períodos mais simbólicos para católicos e cristãos de outras denominações.

A data de sua morte ocorreu quando também se celebra tradicionalmente o aniversário de Roma, que teria sido fundada em 21 de abril do ano 753 a.C por Rômulo.

Um dia antes, além da aparição na sacada da Basílica de São Pedro para desejar “Feliz Páscoa”, Francisco teve seu último contato mais direto com os fiéis ao passear de papamóvel pela Praça de São Pedro.

Mais cedo, havia recebido o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance, a despeito das divergências com o governo Trump.

Últimos dias

O papa já vinha fazendo pequenas, mas simbólicas aparições públicas desde que havia recebido alta e deixado o hospital Gemelli de Roma.

No último dia 6, apareceu em uma cadeira de rodas diante do público após uma missa para os doentes na Praça de São Pedro, agradeceu pela presença dos fiéis e desejou um “bom domingo a todos”.

Em 10 de abril, ele inspecionou as obras de renovação da Basílica de São Pedro e no dia anterior havia recebido os monarcas britânicos, rei Charles III e a rainha Camilla.

Três dias depois, fez aparição pública na missa do Domingo de Ramos, e na Quinta-feira Santa, visitou uma prisão em Roma, onde se reuniu com cerca de 70 presos.

Legado

Ontem, após cumprir as últimas missões de seu papado, Francisco faleceu na residência de Santa Marta, na Cidade do Vaticano, onde viveu desde sua eleição em 2013. A causa da morte do papa Francisco foi por AVC e parada cardiorrespiratória, às 7h35min, no horário local.

O relatório de óbito foi assinado pelo professor Andrea Arcangelli, diretor da Direção de Saúde e Higiene do Estado da Cidade do Vaticano. O atestado de óbito dizia ainda que o santo padre entrou em coma antes de sua morte.

Seu legado de ter tornado a Igreja Católica mais próxima de fiéis e mesmo de quem não seguia a fé católica será também o principal desafio do próximo pontífice a ser escolhido nos próximos dias.

Veja momento marcante do pontificado de Francisco!

Papa Francisco celebra missa de Páscoa.
Papa Francisco celebra missa de Páscoa.

O primeiro papa das Américas

Jorge Mario Bergoglio nasceu em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, na Argentina, e foi eleito o 266º papa da Igreja Católica Apostólica Romana em 13 de março de 2013, após renúncia do antecessor, o conservador Bento XVI.

Formou-se em química, mas trocou a profissão pelo sacerdócio, sendo ordenado padre jesuíta em 1969; nomeado bispo auxiliar da capital argentina em 1992; e arcebispo em 1998. Já em 2001, ele compunha o grupo de 44 novos cardeais criados pelo papa João Paulo II.

Já nos primeiros meses de papado, em julho de 2013, esteve no Brasil para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), realizada no Rio de Janeiro.

Este foi o primeiro destino internacional dele enquanto papa e a única vez que visitou o País. Ao assumir a posição, ele se tornou o primeiro pontífice a nascer nas Américas na história do catolicismo e também o primeiro da ordem jesuíta.

O pontífice escolheu esse nome em alusão a São Francisco de Assis, reconhecido por abdicar de uma vida de posses para se dedicar ao serviço aos pobres e necessitados. O papa, a propósito, teve uma trajetória marcada pela rejeição a pompas e privilégios concedidos pelo cargo.

O legado de Francisco é desenhado por uma abordagem pastoral comprometida com os pobres e marginalizados. Frequentemente, ele enfatizava a importância de uma igreja próxima das pessoas e envolvida em questões sociais.

Priorizando a humildade como virtude, a história dele à frente da Igreja Católica é contornada por tons de subversão ao tradicionalismo acometido pela doutrina.

Francisco, ao longo de seu papado, não fugiu do debate de pautas polêmicas sobre homossexualidade, abusos de menores dentro do clero, o papel da mulher na Igreja.

Em 12 anos no comando da Santa Sé, papa Francisco promoveu reformas importantes na Igreja Católica. Uma das mais recentes foi quando decidiu ser enterrado em um simples caixão de madeira, com o objetivo de simplificar e flexibilizar os ritos funerários papais.

Mesmo com problemas de saúde, em setembro do ano passado, o papa visitou quatro países da Ásia e da Oceania.

Com duração de 12 dias de viagem, foi o maior roteiro que Francisco fez enquanto pontífice, passando pela Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Singapura. Em 2023, tornou-se o primeiro papa a visitar a Mongólia, uma das menores comunidades católicas do mundo.

Em seus últimos meses de vida, Francisco foi alvo de especulações e rumores sobre uma possível renúncia, por conta da debilidade física.

No entanto, quando questionado sobre a possibilidade, Francisco sempre negou a intenção de abandonar o cargo, onde permaneceu até as celebrações da Páscoa cristã. (Thays Maria Salles)

Veja momento marcante do pontificado de Francisco!

O que você achou desse conteúdo?