A morte do papa Francisco deixou um vazio trono de São Pedro, destinado ao ocupante do cargo mais alto da Igreja Católica. Em sua morte, assim como de outros papas, a administração dos assuntos do Vaticano fica temporariamente sob o comando do cardeal camerlengo durante os nove dias de cerimônias funerárias e o prazo de 15 a 20 dias para a organização de um conclave para eleger um novo pontífice.
O camerlengo, posição assumida pelo cardeal irlandês Kevin Farrell, de 77 anos - eleito para o cargo em fevereiro de 2019 -, atuará como um papa "interino", responsável por administrar a Igreja até a eleição de um novo papa, embora com poderes reduzidos.
O conclave é o processo enraizado em séculos de tradição, o mecanismo pelo qual a Igreja Católica Apostólica Romana escolhe seu novo líder, o papa. Após a morte ou renúncia do pontífice, o Colégio dos Cardeais reúne-se no Vaticano para uma votação secreta, culminando na ascensão do novo guia espiritual para mais de um bilhão de católicos ao redor do mundo. É um processo que combina tradição, fé e a busca por uma liderança espiritual que guie os fiéis em um mundo em constante transformação.
A eleição papal por cardeais foi estabelecida no século XI, enquanto o sistema de conclave, como o conhecemos hoje, data do século XIII. O termo "conclave" deriva do latim "cum clave" ("com chave"), uma referência à prática antiga de confinar os cardeais na Capela Sistina até que um novo papa fosse eleito.
O conclave vai reunir 135 cardeais eleitores, com menos de 80 anos, que poderão votar. Do grupo, 108 foram nomeados durante o papado de Francisco, em um trabalho do argentino de aumentar a representatividade de cardeais de fora da Europa. Em seus 12 à frente da Igreja, Francisco foi responsável pela nomeação de 150 cardeais, mas nem todos podem votar, por conta da idade. O número de votantes também foi expandido no papado de Francisco, passando de 120 para 135. 22 foram indicados por Bento XVI, enquanto cinco por João Paulo II.
A maioria dos votantes segue sendo composta de europeus, com um total de 53 cardeais. Ásia tem 23 eleitores, seguida pela África, com 18, e América do Sul, com 17. A América do Norte conta com 16 nomes. A Itália é de disparado o país com maior número de cardeais eleitores, são 17. O país é seguido pelos Estados Unidos, com 10, e pelo Brasil, somando 7 cardeais.
Todo o processo é carregado de mistério, com muitos ritos, na perpetuação de uma tradição que atravessa gerações. Além dos rituais, a escolha é um processo político. Eles são proibidos de falar com qualquer pessoa de fora do conclave. Ler relatórios da mídia ou receber mensagens está fora de cogitação.
O processo inicia-se com a Missa do Espírito Santo, seguida pelas entradas solenes dos cardeais na Capela Sistina. Sob juramento de segredo absoluto, eles depositam seus votos em cédulas, que são contadas e queimadas após cada rodada de votação. A fumaça negra sinaliza que nenhum candidato atingiu os dois terços necessários para a eleição, enquanto a fumaça branca anuncia ao mundo a escolha do novo papa.
As votações para a eleição do novo papa acontecem em sessões pela manhã e à tarde, com duas votações em cada período. No entanto, no primeiro dia, ocorre apenas uma votação.
No momento da votação, cada cardeal recebe um boletim de papel branco e retangular, com a inscrição "Eligo in summum pontificem" ("Elejo como Sumo Pontífice") na parte superior, e um espaço para escrever o nome escolhido. É exigido que o voto seja escrito em letras maiúsculas, com caligrafia legível e impessoal.
Após preencher o boletim, o voto deve ser dobrado ao meio e, segurando-o nas mãos, o cardeal faz uma oração silenciosa: "Chamo como testemunho Jesus Cristo, o Senhor, que seja meu juiz, que o meu voto seja dado àquele que, perante Deus, considero dever ser eleito".
A votação pode ser repetida, se necessário, até sete vezes em períodos de três dias. Caso não haja resultados após três dias consecutivos, os escrutínios são suspensos por até um dia, permitindo uma pausa para oração e um momento de diálogo livre entre os cardeais eleitores.
A duração típica de um conclave é de 2 a 5 dias. No século XX, exemplos notáveis incluem a rápida eleição de Pio XII em 1939, concluída em 2 dias e 3 votações, e a mais longa eleição, que demorou 33 meses, quase três anos, para eleger Beato Gregório X como papa, em 1271.
Com a eleição concluída, o decano do Colégio dos Cardeais pergunta ao eleito se aceita a responsabilidade. Após a resposta afirmativa, o novo papa escolhe o nome que usará durante seu pontificado. Um cardeal diácono então aparece na sacada central da Basílica de São Pedro para anunciar "Habemus Papam!" ("Temos um Papa!"), revelando o nome do novo líder da Igreja Católica.