Primeira votação, fumaça preta: os cardeais não chegaram a um acordo nesta quarta-feira, 7, sobre o sucessor do papa Francisco e permanecerão isolados do mundo até que um nome consiga ao menos 89 dos 133 votos.
Cerca de 50 mil pessoas na Praça de São Pedro, no Vaticano, assistiram à coluna de fumaça sair da pequena chaminé de cobre localizada no telhado da Capela Sistina, onde ocorre todo o processo.
Não foi uma surpresa. A eleição já previa mais negociações e várias votações até se chegar a um nome de consenso entre os apoiadores de Francisco e a ala mais conservadora, que criticou bastante o pontificado reformista do primeiro papa latino-americano, voltado para os pobres.
O primeiro escrutínio foi conhecido três horas e quinze minutos após o "extra omnes", a ordem de "todos fora", para que os "príncipes da Igreja" se recolhessem e dessem início a este ritual que remonta à Idade Média. O resultado do conclave atual é incerto e não há favoritos claros.
A Capela Sistina foi preparada com várias fileiras de mesas cobertas com tecidos marrons e vermelhos, sobre as quais estavam os nomes de cada eleitor.
A fumaça preta foi precedida pela confusão na Praça de São Pedro, quando os telões que projetavam a imagem da chaminé ficaram escuros antes do momento esperado. E o anoitecer tornou complicado distinguir a cor da fumaça no primeiro momento.
Os 133 cardeais eleitores — que têm menos de 80 anos — ficaram isolados do mundo, sem acesso à internet, telefones, televisão ou imprensa, até que escolham um novo pontífice.
Diante dos magníficos afrescos de Michelangelo, os cardeais votam "na presença de Deus", sob solene silêncio.
Cada cardeal escreve o nome de seu candidato, dobra a cédula e a coloca em um prato de prata, que é usado para depositá-la em uma urna posicionada exatamente diante da imagem do Juízo Final.
As cédulas são queimadas em um fogareiro com a ajuda de substâncias químicas para dar a cor correspondente ao resultado do escrutínio.
Antes do "extra omnes", os cardeais juraram guardar segredo sobre o processo e desempenhar "fielmente" o papel de pontífice caso sejam eleitos por "disposição divina".
A partir de quinta-feira, os cardeais votam quatro vezes por dia: duas pela manhã e duas à tarde.
O decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, pediu em uma missa prévia ao conclave para "manter a unidade da Igreja" diante do momento "difícil, complexo e conturbado" que enfrentará o futuro líder espiritual de 1,4 bilhão de católicos.
"Estamos aqui para invocar a ajuda do Espírito Santo, para implorar sua luz e sua força, a fim de que seja eleito o Papa de que a Igreja e a humanidade precisam neste momento tão difícil e complexo", disse.
A Capela Sistina não será um espaço para discursos, debates e negociações. As trocas de ideias acontecerão durante as refeições ou em reuniões na residência Santa Marta e em outras dependências do Vaticano.
As eleições de Bento XVI e Francisco duraram dois dias. A maioria dos cardeais estima no máximo três; os mais pessimistas, cinco.
Francisco nomeou 80% dos cardeais que participam do conclave, o maior e mais internacional da história, com prelados de cerca de 70 países.
Pietro Parolin está entre os favoritos para suceder Francisco, de quem foi secretário de Estado por 12 anos. O jornal Il Messaggero inclui ainda o italiano Pierbattista Pizzaballa, o húngaro Peter Erdo e o cingalês Malcolm Ranjith. (AFP)
Alguns dos cardeais citados como "papáveis"
> Pietro Parolin (Itália), nº 2 do Vaticano, 70 anos
O experiente diplomata foi secretário de Estado — nº 2 do Vaticano — durante quase todo o pontificado de Francisco e é uma figura de destaque no cenário internacional.
Com sua figura ligeiramente curvada, voz delicada e temperamento calmo, já viajou o mundo e conhece muitos líderes políticos.
> Pierbattista Pizzaballa (Itália), patriarca latino de Jerusalém, 60 anos
Conhecedor do Oriente Médio, este franciscano e teólogo italiano fala hebraico e inglês e chegou em Jerusalém em 1999.
Em setembro de 2023, tornou-se o primeiro patriarca de Jerusalém em exercício — a principal autoridade católica do Oriente — a ser criado cardeal.
> Péter Erdö (Hungria), arcebispo de Budapeste, 72 anos
Rígido intelectual, ele fala sete idiomas e é admirado por seus conhecimentos teológicos e sua abertura a outras religiões.
Fervoroso defensor do diálogo com os cristãos ortodoxos, também direciona atenção especial à comunidade judaica. Tem opiniões conservadoras sobre os casamentos de divorciados e casais homoafetivos.
> Luis Antonio Tagle (Filipinas), 67 anos
O ex-arcebispo de Manila é um figura moderada que não hesitou em criticar as falhas da Igreja Católica, sobretudo em casos de pedofilia.
Como Francisco, é um defensor dos pobres, migrantes e pessoas marginalizadas. Ele estava entre os "papáveis" no conclave de 2013.
> Malcolm Ranjith (Sri Lanka), arcebispo de Colombo, 77 anos
Ele é conhecedor das engrenagens da Igreja Católica. É considerado um conservador próximo das posições do papa Bento XVI.
Nomeado núncio apostólico (embaixador) em 2004 por João Paulo II, foi criado cardeal em 2010 por Bento XVI.
> Matteo Maria Zuppi (Itália), arcebispo de Bolonha, 69 anos
Este discreto e experiente diplomata realiza missões de mediação política no exterior há mais de 30 anos.
Membro da Comunidade Romana de Santo Egídio, braço diplomático não oficial da Santa Sé e enviado especial de Francisco para a paz na Ucrânia.