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Guálter George: O que é uma opinião?
Opinião

Guálter George: O que é uma opinião?

A reação é compreensível, faz parte do que entendemos ser o preço a pagar pelo caminho escolhido e não esperamos de quem se sinta atingido, com sinceridade, uma postura passiva ou de aceitação silenciosa das nossas decisões
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Guálter George

Exige consistência e compromisso manter de pé a ideia de ter um espaço de Opinião e se esforçar para preservá-lo dentro de um sentido democrático, o que significa garantir que todas as vozes passem por ele. Para alguns pode ser apenas um discurso bonito para agradar ouvidos, no nosso caso, ao contrário, é um exercício prático que estamos obrigados a fazer diariamente, com as dores e os prazeres que proporciona.

Sobram as situações nas quais nos deparamos com textos dos quais discordamos da primeira à última letra, da frase que abre à que antecede o ponto derradeiro. Diante delas, na condição de selecionadores e editores do que vai às páginas e ocupa as áreas controladas pelo O POVO nas diversas plataformas, procuramos nos portar dentro da condição apontada inicialmente e estabelecer os limites que entendemos necessário observar em qualquer caso. Respeitado isso, compreendemos que o fato de uma ideia equivocada estar sendo exposta naquele conteúdo não pode servir de critério para decidir se o texto deve ou não ser aproveitado.

Abriu-se um debate muito forte nos últimos dias, interno e externo, sobre a conveniência de termos publicado um artigo assinado por Plauto de Lima, no qual ele, a pretexto de relatar uma experiência do filho numa delegacia para obter a segunda via de um documento, aponta seu incômodo com o fato de, cumprindo uma obrigação legal, o policial que os atendia haver perguntado ao jovem qual era o seu gênero. O autor, coronel da Polícia Militar, discorre a partir disso sobre o inconformismo pessoal com essa conquista da cidadania, falando saudoso de como era no passado, quando um médico tinha o poder de dizer quem era homem e quem era mulher etc.

Talvez a situação devesse gerar nele outra reação, de entender que se dava aos profissionais médicos, antes, um poder que não tinham, de definir sentimentos que estavam dentro das pessoas (ainda mais na fase de criança) e que somente elas próprias teriam condições de interpretá-los. Na compreensão que tenho com muito maior correção, como mostra a realidade dos dias atuais, deixando que cada um se defina de acordo com o que sente. Não há crime algum nisso, muito pelo contrário, só vejo acerto.

Feita a rápida intervenção, a partir apenas do que penso e que não pode definir o que publicamos ou deixamos de fazê-lo, volto à polêmica. Com equívocos que tenha, o texto assinado por Plauto de Lima preenche o que consideramos básico e não ataca além do aceitável quem faz uso dos que está garantido a todos pelo direito moderno, considerado um padrão de críticas que está absorvido no debate aberto que a sociedade faz sobre o controverso tema. Toca no limite, admito, no trecho em que faz relação indevida com o que seria um efeito sobre o quadro mental da sociedade, atribuindo à situação até um aumento na criminalidade. Tudo indevido, repito, mas dentro dos marcos extremos de uma linha traçada por nós como critério jornalístico aplicado como esforço de garantir pluralidade.

A reação é compreensível, faz parte do que entendemos ser o preço a pagar pelo caminho escolhido e não esperamos de quem se sinta atingido, com sinceridade, uma postura passiva ou de aceitação silenciosa das nossas decisões. Pelo contrário, mesmo que não busquemos a polêmica pela polêmica, longe disso, ela parece um resultado natural do esforço de preservar um ambiente pelo qual possam circular todos os campos de pensamento, independente do que sejam as nossas posições institucionais e que encontram-se expostas de maneira clara nos documentos internos e nos editoriais que diariamente publicamos.

Finalizando, se querem um ponto que admito termos errado no artigo em questão ele está na parte em que deixamos escapar a inclusão do termo "homem" no trecho descritivo do autor, onde se faz a sua identificação para além do nome e da foto. Uma provocação barata e efetivamente fora dos nossos padrões de assinatura.

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