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Cláudia Sales de Alcântara Oliveira: Campus Iracema e o Poço da Draga
Opinião

Cláudia Sales de Alcântara Oliveira: Campus Iracema e o Poço da Draga

O novo Campus não irá abrigar apenas o Labomar. O projeto fará parte de um corredor cultural interligando os bairros Benfica, Centro e Praia de Iracema por meio de diversos equipamentos culturais
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Cláudia Sales De Alcântara Oliveira

Fortaleza deverá receber um novo campus da Universidade Federal do Ceará (UFC), o Campus Iracema, com o objetivo de atender os cursos do Instituto de Ciências do Mar (LABOMAR). Ao mesmo tempo em que celebramos a criação de um novo espaço dedicado à formação e pesquisa, não podemos nos esquecer que o seu futuro local de funcionamento, o Poço da Draga, é um território marcado por tensões e lutas pelo direito de morar e permanecer.

O Labomar, como toda universidade pública, passou nos últimos anos por sucateamento de suas instalações e cortes de verbas que dificultaram o desenvolvimento de suas pesquisas. Investir recursos e deslocar esse centro de pesquisas de uma das áreas mais privilegiadas da cidade (Meireles), para as proximidades do Poço da Draga, uma área praticamente abandonada pelo poder público, à primeira vista, pode parecer fabuloso!

Contudo, o novo Campus não irá abrigar apenas o Labomar. O projeto fará parte de um corredor cultural interligando os bairros Benfica, Centro e Praia de Iracema por meio de diversos equipamentos culturais.

Por sua vez, as pessoas que se encontram nas intermediações do futuro campus fazem parte de uma comunidade centenária da cidade, que resiste unida ao longo do tempo à falta de infraestrutura, ausência do poder público e sucessivas tentativas de remoção. Isso porque o Poço da Draga faz parte de um processo de "enobrecimento" do espaço litorâneo voltado para o turismo.

Infelizmente, sabemos que, por vezes, grandes empreendimentos, mesmo cheios de boas intenções e com o discurso "para todas as pessoas", quando feitos sem a participação da comunidade local, colaboram e aceleram o processo de gentrificação, acabando por "expulsar" os antigos moradores de baixa renda, por conta da valorização imobiliária, para acomodar os novos usuários gerados pelo empreendimento.

É inquestionável os benefícios educacionais e ambientais de um equipamento como o Labomar. Contudo, se este não vier com um estudo de impacto territorial e social, para minimizar o processo de gentrificação do território do Poço da Draga, a UFC poderá estar colaborando para um processo de remoção completa da comunidade.

Prefiro acreditar que a UFC estará sensível à necessidade de diálogo com os moradores do Poço da Draga, servindo como um ponto focal para que políticas públicas finalmente cheguem à comunidade.

 

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