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Plínio Bortolotti: A lição que Maduro deu a Lula
Opinião

Plínio Bortolotti: A lição que Maduro deu a Lula

Há muito Lula vinha tolerando, ou mesmo justificando, os desmandos de Maduro. O chavista tem a Justiça sob controle, manda prender adversários e provoca ondas de emigração, milhares que fogem do país por motivos políticos ou econômicos
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Plínio Bortolotti

Recentemente escrevi dois artigos comentando que Lula errava ao continuar apoiando o autocrata da Venezuela. Em "O que ganha Lula apoiando Nicolás Maduro?" (7/3/2024), ousei sugerir ao presidente brasileiro "uma boa conversa" com seu velho amigo José Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. Em "Velha guarda e jovens socialistas têm algo a ensinar a Lula" (10/3), lembrei do presidente do Chile, Gabriel Boric que, junto com Mujica, ambos esquerdistas, condenam o governo venezuelano, tratando Maduro pelo merecido título de ditador.

Mas quem acabou por dar uma lição a Lula, mostrando que déspotas são truculentos e não confiáveis, foi o próprio Maduro, o que deve ter sido dolorido para o presidente.

Há muito Lula vinha tolerando, ou mesmo justificando, os desmandos de Maduro. O chavista tem a Justiça sob controle, manda prender adversários e provoca ondas de emigração, milhares que fogem do país por motivos políticos ou econômicos. Por fim, vinha descumprindo o Acordo de Barbados, afiançado pelo governo brasileiro, prevendo eleições limpas na Venezuela.

Finalmente, o Itamaraty, com óbvia autorização de Lula, emitiu uma nota condenando fracamente o fato de mais um representante da oposição ter sido impedido de se registrar para concorrer às eleições presidenciais. Trata-se de Corina Yoris, cujo nome não foi ao menos citado na nota. Ela substituiria outra candidata com registro cassado, María Corina Machado, de grande apelo popular. Assim, Maduro eliminou todas candidaturas viáveis da oposição.

Mesmo sendo o comunicado do Itamaraty sem nenhum ataque frontal à Venezuela, a resposta de Maduro foi violenta.

O Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, com óbvia autorização de Maduro, respondeu com outra nota. Acusou o governo brasileiro de ser "intervencionista" e de ter escrito um documento "nebuloso, que parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos". Uma ofensa que dificilmente o governo brasileiro, digo Lula, conseguirá esquecer.

Dizem por aí que se aprende pelo amor ou pela dor. Rejeitado por Maduro, sobrou a Lula o caminho da dor.

 

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