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Por que não concordo com a ação do Levante Popular
Opinião

Por que não concordo com a ação do Levante Popular

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O presidente Lula mandou ministros do seu governo cancelarem eventos em torno do golpe militar de 1964. E aí se acendeu um debate com pessoas contra e a favor de lembrar ou não lembrar a ditadura militar brasileira (1964-1985). Pelo que entendi, o governo não queria se manifestar, mas todo o restante da sociedade deveria, poderia, e assim foi feito.

Universidades, organizações civis e até alguns ministros de Estado se manifestaram contra o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart, instalou censura à imprensa e às artes no País, prendeu dissidentes, cassou mandatos, torturou e matou pessoas. Algumas estão desaparecidas até hoje.

É essencial lembrar-se disso. Saber da história do País e ser contra uma ditadura militar no Brasil é que moveu muitos de nós, no governo de Jair Bolsonaro, a reagir, posicionando-se contra discursos que pareciam fazer comparações não equivalentes entre a força institucional de uma ditadura e a reação de dissidentes.

Isso sem falar na tentativa de reescrever a história. Nunca entendi pessoas adultas pedindo militares no governo, o fechamento do STF, a volta do AI-5. Li tudo isso durante manifestações no governo Bolsonaro e continuo sem compreender esse fetiche por ditaduras.

Dito isso, acho estranho demais e me preocupam movimentos do tipo Levante Popular da Juventude. Aliás, só os termos usados no site que dizem que o grupo, numa ação da última segunda-feira, 1º/4, "escracha golpistas do 8 de Janeiro" me deixam sobressaltada. A palavra "escracha" era uma das mais usadas por Kim Kataguiri, no seu movimento Brasil Livre, que abriu as portas para muita coisa ruim no Brasil, a partir de 2013.

Sou totalmente contra perseguir pessoas no seu endereço pessoal ou de trabalho, pichar suas casas, queimar bonecos com seus rostos numa manifestação desfavorável às suas posições políticas. Mesmo que sejam Eduardo Bolsonaro ou André Fernandes, dois homens que não fizeram até hoje nada, absolutamente nada, pelo Brasil.

Desde que soube da existência deles, percebi muita agressividade em suas redes sociais, completo descuido com a verdade dos fatos, algo que posso chamar de desprezo por parte deles quando se referem a adversários políticos. Nenhuma polidez, zero empatia, nada amigáveis. Aliás, a extrema-direita adota a postura do escracho, da lacração, do reducionismo, da desqualificação sem dar a mínima para o fato, a história,
o outro.

Porém não é necessário vandalizar para manter a memória de um evento histórico. Nem o de 1964 nem o 8 de Janeiro de 2023. Este último está em processo judicial, e André Fernandes figura entre os investigados.

Aliás, vi no vídeo gravado na segunda o deputado federal enfurecido com os militantes do Levante Popular, o que chega a ser curioso, pois ele não ficou nem um pouco sensibilizado com a destruição em Brasília, em janeiro do ano passado.

Por fim, uma boa - e pacífica - dica sobre 1964 é o filme "Castello, o Ditador", no OP , com roteiro de Luana Sampaio e direção de Demitri Túlio e Luana Sampaio. n

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