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Frederico do Nascimento Rodrigues: Fortaleza 298 anos: entre a vigília e a punição
Opinião

Frederico do Nascimento Rodrigues: Fortaleza 298 anos: entre a vigília e a punição

A população clama pela militarização/segurança como poder coercitivo que vigia e pune, esquece-se da educação como forma de absorção de jovens/adultos, recrutados para fortalecer o tráfico
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Frederico Do Nascimento Rodrigues

O Observatório das Metrópoles, reúne instituições/pesquisadores, trabalha de forma sistemática sobre os desafios metropolitanos. Nesse sentindo, nos 298 anos da onírica Fortaleza, tenta-se fazer um esforço reflexivo. São tantos assuntos, que em poucas palavras torna-se difícil tecer críticas, elogios. A capital do sertão, além do destaque como espaço idílico litorâneo, do turismo, do comércio (in)formal, dos ventos alísios, também é vista sob outro prisma, a tecer imagética negativa da metrópole.

Essa imagem relaciona-se à territorialização das facções criminosas, que se apresentam como força motriz da violência armada no Ceará, mostram articulação, coordenação, capilaridade e fluidez nos territórios, seja em áreas urbanas e/ou rurais.

Em 2023, os crimes violentos diminuíram significativamente, registrou-se queda de 13,2% comparado a 2022, no entanto, os números ainda são alarmantes. Diante do ensejo, cria-se a concepção da "cidade do medo", dos ilegalismos, da violência que repercute na produção/segregação e oferta de serviços na cidade.

A população clama pela militarização/segurança como poder coercitivo que vigia e pune, esquece-se da educação como forma de absorção de jovens/adultos, recrutados para fortalecer o tráfico. Nesse contexto, o Estado como aparelho repressor de controle, vigília e poder, propaga violência, coerção, opressão contribuindo para uma polícia violenta.

Deixemos alguns dados para refletir: os negros representam 71% da população cearense e 80% dos mortos por intervenção policial no Estado, a cada quatro horas um negro é morto, nossa pele é o alvo, a bala não erra o negro. Antes que se diga que é "mimimi", eu sou negro, doutor em Geografia, professor universitário e já sofri abordagem violenta policial. Meu crime? Ser negro e estar dirigindo à noite, retornando de uma aula ministrada na universidade.

Fica a reflexão, que cidade queremos/desejamos para o futuro? Uma cidade livre do crime organizado, Estado menos opressor, com estrutura de oportunidades, menos desigual, sem violência e preconceito. Viva Fortaleza!

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