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Cozinhas comunitárias e democracia
Opinião

Cozinhas comunitárias e democracia

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Eduardo Machado. Sociólogo, Professor da Unilab e da Uece, Pesquisador do Observatório das Metrópoles. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Eduardo Machado. Sociólogo, Professor da Unilab e da Uece, Pesquisador do Observatório das Metrópoles.

As cozinhas comunitárias fortalecem a democracia, quando são protagonistas políticas autônomas e inovadoras que lutam pelo acesso a direitos fundamentais.

No Grande Bom Jardim, 24 cozinhas comunitárias produzem e distribuem refeições para mais de 13 mil pessoas, em 62 comunidades no território. Mais do que isso, agregam a produção e distribuição de refeições a outras ações sociais, educacionais, profissionalizantes, terapêuticas, esportivas e artístico-culturais. Assim, nessas cozinhas preparam-se sabores, saberes e fazeres da inclusão social.

Essas lideranças constituíram a de Cozinhas Comunitárias do Grande Bom Jardim, que identificou os locais onde a fome é mais grave, através do "Mapa Participativo de Enfrentamento à Fome do Grande Bom Jardim". A Rede apresentou a agentes públicos dados científicos, demandas e propostas para o enfrentamento emergencial à fome e para a formulação e implantação de uma política de segurança alimentar e nutricional para as periferias urbanas. E dialogou com o poder executivo e com o poder legislativo cearense, influenciando as leis nº 18312/23 — Programa Ceará sem Fome — e nº 13336, que distribuiu equipamentos para as cozinhas comunitárias.

As cozinhas são, portanto, protagonistas na concepção e execução de políticas públicas. E constroem outro modo de fazer política: interpelam e mantêm interlocução ativa com agentes estatais, geram dados científicos que fundamentam demandas e propostas, participam de instâncias políticas, afetam as decisões e as políticas públicas, inventam formas associativas e atuam de modo integrado e propositivo, sem perder a autonomia. Assim, constituem tecnologias sociais e políticas, produzindo soluções pragmáticas para problemas graves e complexos, promovendo direitos constitucionais, reconstruindo vínculos sociais e lutando pela superação de desigualdades e estruturas colonialistas, elitistas e capitalistas.

O protagonismo político autônomo e inovador de agentes das periferias urbanas revela como a potência criativa da mobilização comunitária é essencial para fortalecer a democracia no país. n

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