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Para sempre, Ziraldo
Opinião

Para sempre, Ziraldo

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Eleonora Lucas. Professora do curso de Letras - CH/Uece. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Eleonora Lucas. Professora do curso de Letras - CH/Uece.

Quando eu tinha uns sete anos de idade, tive contato com um dos livros que me marcam até hoje: "Flicts". Não lembro se consegui ler o livro em si, porque ainda tateava na lida com enunciados mais complexos. Mas eu me lembro bem da história que a professora contou na sala. E contou daquele jeito bem contado, que dá gosto de ouvir, de ver e de imaginar.

Parece que um mundo novo se abriu. Eu já devia ter ouvido falar naquele Menino Maluquinho com uma panela na cabeça cujas tantas histórias eu leria depois. Mas foi "Flicts" que fez meus olhos de criança brilharem e que é em muito responsável por uma das minhas incursões mais ativas e dedicadas como leitora. Vivi, graças a essa obra, uma das experiências de leitura mais genuínas e bonitas que já vi acontecer.

Como eu, muitas crianças também nascidas pelos anos 1990 tiveram, nas obras de Ziraldo, um pilar na efetivação do direito à leitura e à literatura, que deve ser garantido a todas as pessoas. E, sobre isso, Ziraldo foi além, antecedendo muitos na possibilidade de imaginar, de sentir, de se emocionar e de reelaborar simbolicamente a realidade. Foi isto que ele permitiu não só a algumas crianças, mas a toda uma sociedade: o encantamento por meio da leitura.

Os meninos - o Maluquinho e o Marrom -, "As Meninas" e "O Joelho Juvenal" estão no imaginário de uma sociedade que tem, por cada personagem, um afeto quase palpável. Com "A Turma do Pererê", Ziraldo fez história ao lançar a primeira HQ totalmente colorida do Brasil e a primeira a trabalhar com conceitos essencialmente brasileiros. Na literatura para crianças, Ziraldo se fundou em "Flicts", sua primeira obra infantil, celebrada por Drummond, por Neil Armstrong e por um mundo de crianças que, como Flicts, puderam perceber em suas singularidades o quanto ser criança é um ato de encantamento tão grande quanto a Lua.

Ziraldo, sem dúvidas, reconstruiu o imaginário cultural brasileiro por meio de suas obras. Seu impacto é imensurável e até quem já foi ao espaço reconhece: a Lua é Flicts.

Obrigada, Ziraldo. Para sempre. n

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