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Pedro Neto: A doença do poder
Opinião

Pedro Neto: A doença do poder

A proximidade das eleições exige fazermos a "anamnese" dos candidatos, notadamente daqueles que ocupam ou ocuparam espaços de poder
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Pedro Neto

Ernest Hemingway, conhecido e consagrado escritor mundial, escreveu artigo à revista Esquire, em novembro de 1935, cujo título foi "A doença do poder: uma segunda carta séria". No texto, o autor descreve os conceitos aprendidos com o colega jornalista Bill Ryall, naquele tempo correspondente do jornal Guardian, de Manchester.

O festejado autor norte-americano esclarece que, segundo Ryall, "um dos primeiros sintomas da doença do poder era a suspeita em relação aos aliados, seguido por uma irritabilidade em relação a todos os assuntos, a incapacidade de receber críticas, a crença de ser indispensável e de que nada havia sido feito do modo certo até sua chegada ao poder e nada mais seria feito do modo certo a não ser que ele permanecesse no poder".

Ouso dizer que a descrição do jornalista sul-africano Bill Ryall, que levou Hemingway a apresentá-la no seu artigo, é irrepreensível. A sabedoria popular já nos contempla com a máxima "quer conhecer alguém, dê-lhe poder" e a descrição feita do que se chamou de "doença do poder" estrutura sua evolução (ou seria involução?) no indivíduo que dela resta acometido.

O acerto de Ryall é, para nós, um instrumento eficaz nos dias de hoje. A proximidade das eleições exige fazermos a "anamnese" dos candidatos, notadamente daqueles que ocupam ou ocuparam espaços de poder. Você identifica algum (ou alguns) dos sintomas descritos no candidato em que pensa votar? Se sim, sugiro que observe um pouco mais para certificar-se que sua escolha não recairá sobre um sujeito acometido pela "doença do poder", nos dizeres de Ryall. Não se apresse em traçar esse diagnóstico. Afinal, a observação criteriosa do comportamento de cada um ao longo do tempo permitirá um "diagnóstico" mais preciso.

PS. De acordo Celmo Celeno Porto e sua obra "Exame clínico", a anamnese (ana, trazer de novo e mnesis, memória) tem importante significado na medicina, uma vez que colabora com a construção do diagnóstico, com base na queixa do paciente, o ajudando a recordar de episódios que podem estar relacionados com a sua patologia ou doença.

 

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