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Teatro de arena
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Nathana Garcez, doutoranda em Relações Internaiconais (Foto: Marcelo Freire)
Foto: Marcelo Freire Nathana Garcez, doutoranda em Relações Internaiconais

As últimas semanas foram de nova escaladas nas tensões existentes no Oriente Médio. No início de abril, Israel violou o Direito Internacional ao bombardear a embaixada do Irã em Damasco, na Síria, causando óbito de membros da Guarda Revolucionária Iraniana e cidadãos sírios. Tal ação, claro, gerou uma reação: no dia 16, o Irã respondeu com um ataque que ultrapassou algumas barreiras antiaéreas israelenses (e de nações parceiras como os Estados Unidos) e causou pequenos danos em solo da nação governada por Benjamin Netanyahu. No entanto, os pormenores desses eventos são os que mais chamam a atenção.

A verdade é muito se especula sobre ambos os ataques. Primeiro, não é de hoje que Israel busca ampliar a guerra no Oriente Médio. A solidariedade mundial - e interna - após o ataque do Hamas vem diminuindo com as informações sobre os ataques e o tratamento desumanizador de Israel nas regiões palestinas. Uma alternativa para atrair novamente apoio internacional e diminuir as críticas internas ao governo seria provocar e atrair para um confronto uma nação considerada por muitas outras como potencial inimiga. É aí que se encaixam os diversos ataques israelenses a alvos iranianos na Síria e no Líbano desde o ano passado que culminaram no ataque à embaixada.

Enquanto os outros ataques não obtiveram a reação iraniana, o ataque à embaixada, claro, é de uma dimensão que forçou o governo do Irã a se movimentar. Não reagir seria assumir para a opinião pública interna uma posição de fragilidade. O problema estava em como reagir sem colocar ativamente o Irã em uma guerra não apenas contra Israel, mas com as forças armadas americanas, britânicas, da Jordânia entre outras. E talvez aí, especula-se, ocorreu o mais surpreendente: o interesse americano em evitar o aumento do conflito regional.

Ainda que não exista registro oficial sobre negociações entre Irã e Estados Unidos, chamou a atenção que os ataques iranianos foram previamente "vazados", dando tempo para que Israel e seus aliados pudessem organizar uma defesa razoavelmente eficaz que diminuísse o impacto dos bombardeios vindouros. Deu certo. Agora, o governo iraniano fala para sua própria população que tem força para atingir Israel (uma verdade), enquanto Israel e Netanyahu também se beneficiaram com um apoio público de importantes nações e a esticada do conflito que pausa temporariamente a crise interna israelense. n

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