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O Menino Maluquinho e o barulhento som de 2023
Opinião

O Menino Maluquinho e o barulhento som de 2023

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Trim-tiririm! "Alô?" Alguém responde. Au-au ao fundo, vrummm vrummm e bibi aqui do lado. Parece o som de pluct, plact, zummm, mas é só a musicalidade do cotidiano. Isso porque ainda nem mencionei a batida vibrante que os celulares fazem assim que alguém manda mensagem. É incrível. É como se tudo cantasse o tempo todo, celebrando cada passo que alguém dá. Você já ouviu loucura maior que essa? Até parece que me escuta, a cidade está tão barulhenta que ninguém mais ouve ninguém. As aventuras se reduziram a roteiros de vídeo games, e o mais alto pico de adrenalina é quando a internet cai. Daqui a pouco terei de substituir a panela por xícaras aos ouvidos. Seria esse um sintoma da adolescência?

O tic tac do relógio corre os ponteiros a todo momento que ele toca. Mexe de cá é tic, mexe de lá é toc. E entre toques, talheres se encostam mais que pessoas em um mundo pós-pandêmico, é de se julgar? Por um momento atchim se tornou mais comum que gargalhadas altas compartilhadas na calçada de casa e os estalos de cotovelos os novos cumprimentos saudosos e seguros. Acender a luz é gritar o nome de uma moça para uma caixinha falante de inteligência artificial. Mas ainda sim, o mais impressionante são os sons das teclas do computar cantarolando os digitados e-mails de amor.

Tem gente que tem o ouvido mais aguçado, ouve até o que não deve, como diz minha mãe. Não diria que é preciso bom ouvido para escutar tanta tecnologia, basta estar com eles abertos. O mundo é barulhento, mas músicas também são e elas comunicam. O que será que o mundo quer dizer? Seus sons mudaram tanto ao longo dos anos. O mundo fala e não é pouco. Às vezes, faz bem dar ouvidos a ele, afinal, de que outra forma poderíamos conhecer o mundo?

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