Dona Célia estava no posto de saúde Alarico Leite, localizado no limite entre Maracanaú e Fortaleza, e reclamou comigo sobre a falta dos medicamentos, com a receita em mão, dizendo que o remédio estava faltando. Anotei o nome do remédio, fui até a farmácia da unidade e perguntei ao farmacêutico, que informou que tinha, sim, o medicamento. Logo, chamei a senhora e entendi a situação. Ela estava dentro do posto dizendo que não tinha o medicamento, mesmo não tendo, naquele dia, ido à farmácia da unidade. Ela já tinha perdido a esperança, por ter procurado em outras ocasiões, e acabou desistindo.
Infelizmente, a população está totalmente desacreditada e faz questão de escancarar para todos. Eu conheço de perto essa desesperança. Durante o período em que gerenciei a saúde de Maracanaú, como professor e como policial encontrei diversos casos de pessoas descontentes com os serviços públicos.
O descrédito acontece na saúde; também na educação, quando uma mãe não tem a chance de trabalhar porque não consegue uma vaga para seu filho na creche. Na segurança também não é diferente, quando se faz um Boletim de Ocorrência, e fica por isso mesmo, porque o caso nem chega a virar inquérito. Acontece ainda quando o cidadão paga uma taxa do lixo, mas, ainda assim, a cidade continua suja.
O que temos vivido é um grande desgaste. As pessoas acreditam, cada vez menos, que é possível entregar um serviço público de qualidade. Mas não temos como tirar a razão dos cidadãos; afinal, a população não tem recebido bons serviços. O que fazer para resgatar essa confiança?
É bem verdade que um gestor não consegue resolver todos os problemas da cidade de uma vez, mas ele pode conhecer cada um e trabalhar para diminuir os efeitos dessas questões na vida das pessoas. Um prefeito, por exemplo, não pode ficar inerte diante de problemas tão sérios como os de Fortaleza.
Porém é isto que estamos vendo - o silêncio do maior servidor público do município.
Além disso, todo o time de servidores públicos, sejam eles concursados, comissionados ou contratados, deve estar na mesma sintonia, servindo à população com respeito, cuidado e empatia. Um bom serviço prestado começa lá na ponta, ouvindo os anseios da comunidade, para, a partir dali, priorizar o que vai fazer a diferença na vida das pessoas. n