
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Estreou em abril no Brasil o aguardado filme "Guerra Civil". O que poderia ser mais uma produção hollywoodiana recheada de efeitos especiais é, na verdade, um importante estímulo para reflexão para um dos males de nossos tempos: a polarização política. O filme se passa num futuro próximo e distópico no qual os Estados Unidos estão em guerra civil e processo de secessão. Na ficção, entre os fatores que os levaram até este estado está a polarização política. No mundo real, ao menos desde 2013, o Brasil viu consolidar uma polarização que se organiza em torno dos nomes de Lula e Bolsonaro. Famílias brigaram, amizades terminaram, casais acabaram e crimes foram cometidos. A rivalidade político-ideológica fez tábula rasa de uma condição basilar da democracia: a tolerância.
Entretanto, esse é um problema global. Nos EUA tivemos a invasão ao Capitólio, partidos de extrema-direita avançam em democracias avançadas, como na Alemanha, França e Portugal e, por conseguinte, a polarização política se converte em um risco à democracia, amplificado pelo poder das mídias e redes sociais. Na prática, a polarização política corrói não apenas a qualidade da democracia, mas também a confiança em suas instituições, inclusive as próprias regras do jogo democrático. Corrói, acima de tudo, o tecido social, os laços que unem uma coletividade humana que chamamos de sociedade, a qual, por sua natureza, é diversa e complexa. Por essa razão, "Guerra Civil", do título ao ato final, é um alerta, o qual não esperamos que antecipe a vida real.
No Brasil de hoje, podemos assistir ao filme como entretenimento. Contudo, para aqueles que viveram e acompanharam atentamente o risco político que vivemos entre outubro de 2022 e janeiro de 2023, hoje se reconhece que chegamos perto de retrocesso autoritário, que poderia ter ensejado um estado de violência e guerra civil. Apesar da polarização ainda estar presente nas relações entre Executivo e Legislativo, no Congresso, nas ruas e nas salas de brasileiros e brasileiras, devemos aprender com a vida, com a história e com a arte que, apesar das nossas diferenças, somos brasileiros, e a democracia como valor e forma deve ser preservada como um compromisso entre os vivos, os mortos e aqueles que irão nascer. Afinal, de Burke a Scruton somos lembrados de que nada mais conservador do que este princípio de solidariedade entre gerações em prol da preservação e aperfeiçoamento incremental do país, de suas instituições e sociedade. n
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