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Lia Leite: Livros censurados
Opinião

Lia Leite: Livros censurados

Quando a editora da Estúdios Cor aceitou publicar As Novas Cartas Portuguesas, já estava ciente dos riscos envolvidos. Natália Correia, escritora e editora, enfrentou uma das mais intensas censuras da época
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Lia Leite

Em 2024, celebramos cinquenta anos da publicação de Novas Cartas Portuguesas (1974), assinado pelo trio de corajosas autoras Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno.

Na época, as autoras foram autuadas pela Pide, a polícia política da ditadura salazarista, ao lado da ousada editora, Natália Correia, a única a aceitar a publicação do texto.

Após a declaração de apoio de Simone de Beauvoir, o julgamento das três Marias foi noticiado internacionalmente e incitou manifestações populares em diversos países.

Em todo o mundo, mulheres se identificaram com os poemas, cartas, contos, ficções, ensaios das três Marias; e com o discurso em favor do direito de exercer profissão, a livre expressão da sexualidade, a denúncia da violência doméstica e o feminicídio.

Quando a editora da Estúdios Cor aceitou publicar As Novas Cartas Portuguesas, já estava ciente dos riscos envolvidos. Natália Correia, escritora e editora, enfrentou uma das mais intensas censuras da época, tendo seis obras de sua autoria confiscadas e várias publicações sob sua editoria também alvo de repressão.

A publicação de Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: dos Cancioneiros Medievais à Atualidade (1959), de Natália Correia, resultou em censura, julgamento e a condenação à prisão tanto para a autora quanto para seu editor, Fernando Ribeiro de Mello.

Se pela qualidade estética e pelo discurso inteligente, as autoras conquistaram centralidade no espaço literário, é na impossibilidade de parar essas artistas que a direita conservadora intentou silenciar suas vozes. Não era o ataque a um livro, a um vocabulário, mas a um modelo de sociedade em que essa literatura é protagonista.

Neste ano, As Novas Cartas Portuguesas ganham edição no Brasil, pela Todavia, e a obra dramática completa de Natália Correia, recentemente publicada, também cai nas mãos das novas gerações.

Apesar do moralismo e das ações de cunho censório serem cíclicos, meio século depois, essas grandes mulheres, perseguidas e censuradas, continuam a ser lidas. Elas são imparáveis!

 

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