Pesquisa mostra que 70% das menções ao Exército — relativas ao trabalho de resgate que a força desenvolve no Rio Grande do Sul (RS) — são negativas. O levantamento é do instituto Quaest, realizado a pedido do Uol, entre os dias 3 e 10 de maio.
A avaliação negativa do Exército é resultado da quantidade industrial de informações falsas que circulam nas redes sociais. As mentiras são impulsionadas via internet e no Congresso Nacional, por parlamentares bolsonaristas. Além do Exército, o governo do RS e o governo federal são vítimas da mesma quadrilha de impostores.
Em declaração ao Uol, o diretor da Quaest, Felipe Nunes, disse não ser possível afirmar que o ataque ao Exército foi organizado, mas que "parece ser bem orquestrado". No entanto, por minha conta e risco, afirmo que seria impossível que uma campanha de tal monta, com alvos tão específicos, surgisse por geração espontânea.
Basta olhar um pouco atrás e verificar o que aconteceu durante a pandemia da Covid-19 e nas tentativas de golpe, urdidas entre o fim de 2022 e o início de 2023. Existe uma fábrica bem azeitada de mentiras, cujos líderes nem é tão difícil de identificar, pois alguns agem à luz do dia. O objetivo é fomentar um clima de desconfiança, opondo voluntários e as organizações oficiais de socorro, criando uma situação de caos, o único elemento no qual a extrema direita consegue sobreviver.
O paradoxal neste episódio de notícias falsas é que o exército, em um curto período de tempo, passou de herói a inimigo da malta bolsonarista. Como diz o ditado espanhol, "cría cuervos y te sacarán los ojos".
Durante o mandato do ex-presidente Jair bolsonaro, o "meu Exército" era apresentado como uma reserva política contra os "comunistas". Depois que Bolsonaro perdeu as eleições, os militares passaram a ser vistos como a última esperança dos derrotados. Mas, como o golpe flopou, o Exército virou "melancia": verde por fora, vermelho por dentro.
Esses acontecimentos deveriam reforçar entre os militares a convicção de que o papel deles tem de ser exercido dentro da institucionalidade, ao lado do povo brasileiro, como fazem agora — e não submetidos a uma facção política. n