Não poucos estudiosos defendem que se pode entender muito de uma época ou de uma sociedade a partir do esporte, em especial, do futebol. O velho "esporte bretão" diz muito, por exemplo, da expansão e domínio do capitalismo sobre o mundo em fins do século XIX e começo do seguinte. Onde o capital, tropas, navios e ferrovias da Inglaterra chegavam, o futebol se fazia presente, sendo abraçado (caso da América Latina) ou repudiado (Ásia).
O futebol, de esporte das elites, virou o lazer da classe trabalhadora. Não poucos clubes operários ou de ligações com o operariado surgiram. Em nosso Estado, o exemplo mais nobre é o Ferroviário, que ainda hoje abrilhanta nossos gramados.
De prática amadora, o futebol se tornou uma modalidade profissionalizada (entenda-se, remunerada), o que permitiu a presença de negros e pobres nos campos da vida, enquanto os desportistas mais ricos passavam a se restringir à direção dos times (não por acaso o termo "cartola", denotando suas vestimentas e condição econômica privilegiada).
O futebol, nas últimas décadas, virou um grande negócio, com cifras milionárias. Permaneceu, porém, elitistas e autoritário. Os atletas não são ouvidos, os torcedores, também não.
O Ceará Sporting Club se prepara para mudar seu estatuto. Alguns cartolas do autoproclamado "Time do Povo" querem mantê-lo como um clube sem povo. Velhos e enrugados cardeais, senhores feudais de tempos idos, articulam nos bastidores para evitar o voto de torcedores. Na verdade, de alguns torcedores, porque o chamado "sócio torcedor" já é uma elite — quem se dispõe a pagar todo mês os altos valores cobrados?
Apegados a práticas pouco éticas, de competência administrativa duvidosa (para dizer o mínimo), elitistas, preconceituosos, setores da cartolagem alvinegra preferem ver o clube afundado em vez de torná-lo minimamente democrático. Recusam-se a aceitar sair do poder, um poder esportivo, diga-se, que garante influência e outros rendimentos em outros setores da sociedade.
O Ceará Sporting Clube precisa ser repensado e os atuais dirigentes, aposentados. Urgentemente.