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José Flávio Sombra Saraiva: in memoriam
Opinião

José Flávio Sombra Saraiva: in memoriam

As peculiaridades da carreira universitária nos afastaram, mas acompanhava à distância seus livros e artigos em revistas e jornais. Eram tantos, que o frenético ritmo de sua produção intelectual me deixava atônito
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Antônio Fernando De Araújo Sá

Articulista

No último dia 18 de maio de 2024, o professor e historiador cearense José Flávio Sombra Saraiva partiu dessa vida, deixando uma enorme contribuição para a religação entre o Brasil e a África, tanto no âmbito historiográfico, quanto na área das relações internacionais.

Nascido em Limoeiro do Norte, ele foi um dos meus mentores intelectuais durante e após o curso de graduação em História no Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB), nos anos 1980, proporcionando-me uma atualização da discussão teórica do marxismo, com o acesso aos textos de Pierre Vilar, Josep Fontana, Jerzy Topolski e Adam Schaff, trazidos de sua experiência no Colégio do México.

Afora a contribuição teórica, o professor acolheu-me na Universidade de Brasília, em seu grupo de pesquisa, quando travei contato com a História e Historiografia da África, que foram fundamentais para se pensar uma educação antirracista e decolonial, quando ainda esses temas eram pouco discutidos nas universidades brasileiras.

No início dos anos 1990, como professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe, consegui a inovadora inclusão da disciplina História da África como obrigatória no curso de licenciatura, inspirado nos ensinamentos do professor Flávio Sombra Saraiva, antecipando discussão que só seria consolidada com a Lei 10.639, de janeiro de 2003. Em 1997, a realização do seminário do centenário do final da Guerra de Canudos, organizado pelos Departamentos de História da UFS e da UnB, consolidou nossa amizade e afinidade intelectual.

As peculiaridades da carreira universitária nos afastaram, por sua opção pela brilhante carreira nas relações internacionais, como professor titular na Universidade de Brasília e na construção do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI). Contudo, acompanhava à distância seus livros e artigos em revistas e jornais. Eram tantos, que o frenético ritmo de sua produção intelectual me deixava atônito.

O professor/historiador, que combatia o Alzheimer, foi tragado por essa doença nefasta, como, aliás, a própria nação brasileira. Sua contribuição intelectual e humana se perenizará naqueles que tiveram oportunidade de conhecê-lo e que compartilharam da sua erudição sobre as relações Brasil-África.

Descanse em paz, meu querido mestre.

 

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