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Eduardo Coutinho: A mística da igreja Matriz de Quixeramobim
Opinião

Eduardo Coutinho: A mística da igreja Matriz de Quixeramobim

Da alegria causada pelo encantamento ao vê-la, logo surge a tristeza de uma constatação ao olhar em volta. Muitos dos antigos casarões do entorno já não existem mais, destruídos pelo progresso. Novos prédios sem graça surgem tentando sufocá-la
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Eduardo Coutinho

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O que me chama mais a atenção na igreja Matriz de Quixeramobim é a sua cor. Certa vez, o doutor Antônio Monteiro disse, em antigo artigo publicado no jornal O POVO, que ela tem uma "brancura mística". Não discordo, do contrário, como explicar o arrepio que sinto toda vez que retorno à minha cidade e a contemplo? Sob o sol forte do sertão, ela reflete um brilho majestoso indecifrável para mim.

Da alegria causada pelo encantamento ao vê-la, logo surge a tristeza de uma constatação ao olhar em volta. Muitos dos antigos casarões do entorno já não existem mais, destruídos pelo progresso. Novos prédios sem graça surgem tentando sufocá-la. Uma "casa de shows" teve a audácia de se colocar ao seu lado gritando com suas barulhentas caixas de som. Que falta de respeito com as velhas paredes branquinhas da Matriz.

É com sua brancura imponente que ela sobrevive, desde 1780, para atingir o seu apogeu todos os anos nas festas do mês de junho. O dia do seu padroeiro, Santo Antônio, é o treze, mas já em maio se inicia a sua preparação para as festividades, com os ritos religiosos da paróquia movimentando os fiéis, e os prazeres do parque de diversões alvoroçando crianças, jovens e adultos, todos fascinados. Fé e satisfação não competem, pelo contrário, unem-se numa perfeita simbiose de costumes interioranos. A cidade parece efervescer ao seu redor.

De frente para a igreja, a roda-gigante respeitosamente pede licença às duas torres para, só naquele período, ultrapassá-la em altura. Num movimento de trezentos e sessenta graus, a grande roda se abaixa e depois se levanta, reverenciando-a com sua rotação.

No seu lado direito, ela congrega os seus filhos, os que foram morar distante e os que ficaram em casa. Arma-se ali, no seu alpendre, o grande barracão de Santo Antônio. No calor noturno da noite de leilão, irrompe uma confluência de apertos de mão, abraços e toda sorte de saudações.

Nessa noite, é possível experimentar a alegria de estar ao lado de quixeramobinenses de todos os lugares e gerações, cada um festejando a sua fé, o seu pertencimento à terra. Talvez seja essa a mística que o doutor Antônio Monteiro relatou observar ao olhar para a igreja Matriz.

 

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