Logo O POVO+
Renato Abê: O Vulcão e o Dragão
Opinião

Renato Abê: O Vulcão e o Dragão

Assim como um atrativo natural, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura não consegue sozinho mobilizar a ocupação da Praia de Iracema
Edição Impressa
Tipo Notícia Por

Sul do Chile. Imponente, o vulcão Osorno exibe sua forma pontiaguda - um Monte Fuji sul-americano. Embarcado, desço o Lago Todos os Santos e contemplo a majestosa natureza ao redor. A mente vagueia e começo, enquanto desbravo pela primeira vez o país andino, a me lembrar da minha terra: pensar sobre o vulcão me fez refletir sobre o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Explico. São duas atrações turísticas bem distintas, porém os dois monumentos têm em comum a complexidade dos seus entornos. A diferença gritante é que as cidades chilenas da região Los Lagos, apesar do frio e da chuva que poderiam atrapalhar, sabem muito bem que um ícone só não segura uma região inteira.

A estrutura geológica, por si só, já é bonita de ver e visitar seu centro de esqui funciona bem como um passeio, mas no entorno é onde está o potencial criativo. A cidade de Frutillar organiza a arquitetura dos bares e restaurantes para ter vista do vulcão. O moderno Teatro del Lago tem anfiteatro que posiciona a beleza natural no centro do palco.

Do teatro, um catamarã sai para um passeio especial que une artes cênicas, gastronomia e, claro, aborda o vulcão e suas lendas. Do mesmo jeito, no município de Puerto Varas, a rede hoteleira integra de modo inteligente a exuberância de Osorno em seus múltiplos cenários.

Os estímulos são tantos que fica evidente a união do vulcão com o todo. E o Dragão do Mar nessa história? Bem, é muito cômodo que caiamos no nostálgico discurso de que o equipamento cultural já viveu seu auge e hoje está maltratado.

A programação artística está lá firme e forte, a gestão de Helena Barbosa é eficaz e pautada no diálogo com diferentes públicos. Mas, assim como o vulcão, o Dragão não consegue sozinho mudar uma região.

O poder público precisa entender a região do entorno do centro cultural em sua totalidade. Muito já foi dito, mas vamos de novo: segurança, iluminação, limpeza. Tudo conta. O equipamento não pode legislar sobre as ruas que o rodeiam.

E o potencial turístico? O Dragão é histórico. As pastas de turismo do Estado e do Município deveriam olhar muito mais para o equipamento, que é tão bem posicionado entre a praia e o centro da cidade. Temos ouro nas mãos e podemos aprender com o povo chileno sobre não desperdiçar riquezas.

O que você achou desse conteúdo?