Sou Tatiana Sarquis, mãe do Luis Rafael, cardiopata congênito, diagnosticado com horas de vida. Meu filho está na estatística de 1% de crianças cardiopatas, na de 25% com cardiopatia congênita em estado crítico e na de 15% dos que precisam de recuperações e procedimentos paliativos. Sua primeira cirurgia foi aos 4 dias de vida. Foram mais 2 de peito aberto e 2 cateterismos com 1 ano e, depois disso, mais 3 cirurgias abertas e inúmeros cateterismos, o que nos garantiu sua vida até hoje.
Luis Rafael tem 10 anos. Uma década, o suficiente hoje para a mudança de uma geração! Vivemos uma jornada com muitas batalhas físicas, mentais e sociais nesse tempo. Acompanhamos o amadurecimento de outras famílias, de médicos recém-formados, de técnicas novas, mas atravessamos uma geração inteira sem que exista o reconhecimento da subespecialidade da cirurgia cardiovascular pediátrica, mesmo com 1% de crianças que precisam desse cuidado e olhar.
Como mãe que luta por direitos e honra os profissionais que atuam na área, não consigo entender o motivo do não reconhecimento da denominação almejada pela classe. Por que não incentivar a oportunidade de desenvolverem habilidades específicas que podem ajudar a salvar outros filhos, netos, sobrinhos?
Aqui vai uma confissão: eu aprendi a lutar por direitos, pela vida, correr contra o tempo e a lutar pelos outros graças a algo tão transformador a ponto de me quebrar e remontar inteira! Em 10 anos de entra e sai de hospital, de lutas conjuntas e reivindicações por melhores atendimentos, não só para o meu filho, mas para todos os filhos, me deixa extremamente ansiosa que os médicos (nossos anjos) sejam reconhecidos e agraciados para que façam o que sabem melhor fazer: salvar vidas.
Nesse momento meu filho está hospitalizado. A cadeira do acompanhante, o cheiro de éter, a máscara no rosto e o bip da máquina de saturação e batimentos cardíacos me lembram que meu filho está vivo, graças a Deus e aos cirurgiões cardiovasculares que se preocupam em atender crianças. Aqui, é, também, a nossa casa, onde uns lutam para viver, e outros lutam para salvar. n