Em um dia aparentemente normal, como qualquer outro, em alguma cidade da região dos sertões de Sobral, no meio do dia em seus afazeres, se começam a ouvir alguns megafones ligeiramente abafados. Deles ecoam vozes de luta e força convidando o povo a se colocar nas ruas. Entre toadas de tambores e alfaias, inicia o coro para que todos escutem "Se o campo não planta, a cidade não janta!". Daí transbordam acolhidas animadas a todos que passam pelo grupo que se espalha pelas ruas, é importante a mensagem, mas também é calorosa a "chegança" deste povo que vive para a terra e da terra. E assim se inicia mais uma Festa da Colheita Ceará adentro. Mais uma das tantas celebrações que acontecem em todo mês de junho em nosso estado.
A Festa da Colheita é sempre uma experiência única de preservação da cultura alimentar. É através da valorização destas sementes e dos modos de cultivo que são preservadas as raízes que dão sentido à identidade de todo um povo. É possível sentir uma atmosfera permeada por um passado que fez da produção contínua uma oportunidade para uma convivência sustentável com a natureza. Não plantar transgênicos para não apagar suas histórias é uma forma de resistência. Essa identidade cultural se mostra a todo momento, inclusive para o nosso povo que acredita que fazer festa é, sim, um modo de celebrar os frutos do plantio. Se o inverno foi bom, a festa promete!
Afinal, a que serve uma festa para celebrar a colheita? Primeiro de tudo, é preciso comemorar o inverno generoso que possibilitou a germinação e o crescimento de tudo o que foi planejado e plantado. O planejamento sem a chuva não adianta muita coisa. Apesar de termos alternativas mecânicas que auxiliem o êxito do plantio, a lógica da produção de quem celebra a colheita é sim contar com a chuva como agente indispensável neste processo. Depois, é preciso partilhar esse momento de agradecimento pelo fruto colhido, um momento importante para discutir as realidades da agricultura familiar no campesinato da região com os moradores.