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Pedro Rogério: Este Brasil de Chico
Opinião

Pedro Rogério: Este Brasil de Chico

Chegando Chico Buarque aos 80 anos, podemos afirmar com clareza que o escritor, cantor e compositor soube herdar esse legado e trazê-lo para o melhor do Brasil do século XX - a Música Popular Brasileira
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Pedro Rogério. Professor , pesquisador, músico e radialista. (Foto: Divulgação/Diego - casamen Neno)
Foto: Divulgação/Diego - casamen Neno Pedro Rogério. Professor , pesquisador, músico e radialista.

Seu nome, Chico. Profundamente brasileiro. Um Chico amigo do Zé, do Tonho, do Bastião. Nomes que sincretizam o cristianismo de Francisco, José, Antônio e Sebastião com as origens dos povos nativos e com a riqueza da mãe África.

Já seu sobrenome tem o peso da mais alta sofisticação. Aqui é o Buarque, filho de um dos pioneiros da sociologia da cultura brasileira - Sérgio Buarque de Holanda -, autor do livro "Raízes do Brasil".

Chegando Chico Buarque aos 80 anos, podemos afirmar com clareza que o escritor, cantor e compositor soube herdar esse legado e trazê-lo para o melhor do Brasil do século XX - a Música Popular Brasileira. A canção brasileira, desenvolvida a partir do encontro da melodia com a letra, com harmonias complexas lastreadas pela bossa-nova, é singular. Em toda sua diversidade, depositária fiel da antropofagia modernista, esta música popular, só neste Brasil de Chico.

A obra de Chico é a materialização, em letra e música, da utopia do Brasil desejado pelas mulheres tão bem reveladas em seu cantar, pelo trabalhador e meninos do Brejo da Cruz, pelas pessoas dos recantos mais humildes até os intelectuais mais refinados das universidades nacionais e internacionais; todos sonhando a alegria e a justiça social para o Brasil e para o mundo.

Desde seu primeiro disco, de 1966, Chico Buarque denuncia relações sociais injustas, como em "A Banda", falando da gente sofrida que consegue se despedir da dor vendo a banda passar. Uma crônica em forma de música. Nesse mesmo ano, o neto do pernambucano Cristóvão Buarque de Hollanda Cavalcanti gravou "Morte e Vida Severina", em que musicou esse poema de João Cabral de Melo Neto. Ele vai do sertão ao mar em "Madalena foi pro mar", passando pelos dramas urbanos de um certo Pedro pedreiro, que espera aumento do salário, que espera um filho pra esperar também. Das denúncias nas primeiras obras, chega seu renovado convite, por este Brasil desejado, em uma recente canção:

QUE TAL UM SAMBA?

Fazer um filho, que tal?

Pra ver crescer, criar um filho

Num bom lugar, numa cidade legal

Um filho com a pele escura

Com formosura

Bem brasileiro, que tal?

Não com dinheiro

Mas a cultura.

Chico é um gerador de sentidos de Brasil, que representa o extraordinário, trágico, terno, malandro, doce e amargo de sermos o que somos! n

 

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