As eleições para o Parlamento Europeu, no último fim de semana, revelaram um cenário político no qual partidos da extrema-direita estão prontos para controlar cerca de um quarto de todas as cadeiras. Alguns desses partidos, como é o caso da Alternativa para a Alemanha (AfD) e da Frente Popular Nacional de Chipre (ELAM), há laços com o neonazismo. Esse avanço reflete as profundas insatisfações de diversos estratos eleitorais, como os milhões de jovens que estrearam nas urnas preocupados com a guerra na Europa, com as mudanças climáticas e com o acesso cada vez mais difícil ao mercado trabalho e à habitação. A realidade pós-pandemia também trouxe consigo o desafio da inflação, corroendo o padrão de vida da classe média.
A Alemanha, em particular, vivencia a queda mais acentuada nos salários reais desde 1950. Nesse contexto de deterioração econômica, há um aumento das desigualdades e o enfraquecimento do tecido social, gerando uma crise de confiança na política tradicional. A extrema direita explora tal crise a partir da retórica chauvinista, posicionando na centralidade do debate pautas anti-imigratórias, contra minorias e contra o Estado. Xenofobia e reacionarismo se fortaleceram na oposição à figura do europeu ilegítimo, agora inimigo comum de diferentes gerações que, antes às margens da comunidade, hoje se aproximam graças às plataformas online. A ascensão da extrema direita não é apenas resultado de um trabalho comunicacional bem executado, é também fruto da própria infraestrutura técnica das plataformas, que criam bolhas ideológicas e reforçam discursos de ódio, racismo e discriminação.
Na contramão, a experiência nórdica oferece uma alternativa promissora, combinando esperança e progresso ao apostar em uma política que responda tanto à crise ecológica quanto às preocupações sociais. Uma sociedade mais inclusiva e equitativa, focada nos direitos dos trabalhadores e na distribuição igualitária de renda, é essencial para escapar da armadilha da extrema direita e sua desumanização violenta e implacável. n