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Renato Abê: "Eles só postam se pagar"
Opinião

Renato Abê: "Eles só postam se pagar"

O jornalismo cultural no fogo cruzado entre diferentes compreensões do que é relevante
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 10.02.2020: Foto de atualização do cadastro. Paulo Renato Abê  (foto: Thais Mesquita/O POVO) (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FORTALEZA, CE, BRASIL, 10.02.2020: Foto de atualização do cadastro. Paulo Renato Abê (foto: Thais Mesquita/O POVO)

Há 35 anos, quando o inigualável jornalista Ivonilo Praciano abria os trabalhos como editor do Vida&Arte, um desafio já estava posto: como abarcar toda a riqueza artística do Ceará? O jornalismo cultural tem, em sua essência, a árdua missão da curadoria cotidiana. São muitas as linguagens artísticas e infinitos os caminhos da fruição.

Cada leitor que, neste momento, encontra estas minhas palavras teria uma resposta diferente caso eu perguntasse: que notícia sobre cultura e entretenimento é a mais importante desta sexta-feira, 28 de junho?

Para uns, é novo disco de trap. Para outros, a performance sobre sexualidade realizada nas ruas do Centro. Há quem aponte o evento de artesanato no Centro de Eventos ou a exposição com o mestre da cultura no Benfica. Ou seria a trend da moda? E o restaurante do momento? Tá esquecendo do festival de dança? E o Mercado dos Pinhões vai ser reformado?

Esse desafio se amplia ainda mais quando olhamos para o contexto nacional e internacional. "Fala da Casa do Dragão!”. “E a Eliana, será que vai vingar na Globo?”. Sim, nós jornalistas culturais vivemos essa eterna polifonia subjetiva.

Critérios de noticiabilidade nos guiam, compreensão do papel social da comunicação também. Eixos como audiência, relevância, prestação de serviços também compõem essa equação. Mesmo assim, é impossível comportar todos os temas possíveis.

Quando esse mix deságua nas redes sociais, então, o debate escalona rápido. O Instagram do Vida&Arte hoje reúne mais de 90 mil seguidores e alcança mensalmente uma média de 3 milhões de pessoas. É muita gente com gostos variados.

Esta semana, um comentário entristeceu a equipe: “Eles só postam se pagar”, bradou uma seguidora. Essa grave acusação incomoda justamente por colocar em xeque nossa busca curatorial de todos os dias, além, claro, de duvidar da nossa ética e rigor técnico.

Os veículos de comunicação produzem, sim, postagens patrocinadas (que precisam ser devidamente sinalizadas). Mas esse é tema para outro papo. O fato é que definitivamente a escolha do que vai ou não ser pauta não passa por uma hipotética relação escusa financeira que esmaga artistas independentes.

Não conseguiremos pautar tudo o que acontece na nossa cultura (e ainda bem que tem muita coisa acontecendo), mas convido essa leitora a sair da própria bolha e prestar atenção no que o Vida&Arte noticia diariamente. Pluralidade, diversidade e responsabilidade são nossas metas. Sabemos das dificuldades, mas lutamos por elas todos os dias e não vamos parar.

 

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