Em 3 de junho, aos 98 anos faleceu, em Tubingen, na Alemanha, o grande teólogo Jungen Moltmann. Um dos mais influentes da 2ª metade do século XX, que realizou uma revolução na teologia cristã com repercussões nos campos da cultura, política, ecologia e diálogo.
Teólogo que transformou sua experiência pessoal em "existência teológica", uma vez que, a partir das experiências de vida e morte, buscou as respostas na fé. Sua teologia é biográfica, com fortes marcas autobiográficas. Uma teologia feita não apenas com a razão, mas com o coração e com a alma.
Tive a graça de aprofundar uma das suas obras mais significativas "O Deus crucificado", no mestrado que realizei na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), reflexão que depois foi publicada pelas edições Paulinas com o título: "Em Jesus, Deus assume o sofrimento humano". O que encanta em sua obra é a revolução que ele faz da imagem de Deus.
Moltmann faz da cruz de Cristo a chave de compreensão do mistério do Deus cristão e demonstra que os sofrimentos da humanidade, que parecem sem sentido, são abraçados a partir de dentro pelo Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. O Deus dele é Aquele que, desde sempre, tem amado de forma apaixonada. Não se trata da teologia abstrata da cruz e do sofrimento, mas de uma teologia do Crucificado, a partir do sofrimento de tantos crucificados de ontem e hoje.
Deus não só se identifica com sofredores, mas se faz vítima na sua entrega na Cruz. "Um Deus vulnerável, com entranhas de misericórdia". Deus diferente do deus de Aristóteles, distante, insensível e incapaz de amar. Em suas palavras: "O Deus cristão sofre de amor. Não é um sofrimento imposto de fora - pois Deus é imutável - mas um sofrimento de amor, ativo. É um sofrimento aceito, livre". Assim, Moltmann mostra que Deus não se reconhece pelo seu poder e sua glória no mundo, mas pela sua impotência e morte na cruz de Jesus.
A cruz nos apresenta Deus em seu oposto: humilde, debil, sofrido e fraco. Precisamos purificar nossa imagem do Deus de Jesus, para não permanecermos indiferentes ante o sofrimento dos outros e não busquemos dar explicações dolorosas que levem à aceitação resignada do sofrimento.
Quem crê assim em Deus, não silencia diante da morte, mas proclama a sua vitória de Deus sobre o sofrimento, a injustiça e a morte. O Crucificado é o Ressuscitado. E o Ressuscitado é o Crucificado! Que Moltamnn seja acolhido nos braços do Deus que ele nos ensinou a conhecer e a amar.