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Ricardo Caichiolo: Quais serão os impactos de uma vitória da extrema direita na França?
Opinião

Ricardo Caichiolo: Quais serão os impactos de uma vitória da extrema direita na França?

Com relação à União Europeia, ainda que a extrema-direita francesa tenha abandonado o discurso de uma saída do bloco (Frexit), espera-se o questionamento contundente quanto aos seus custos e benefícios
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Ricardo Caichiolo. Diretor da unidade do Ibmec Brasília, PhD em Ciências Políticas e Sociais pela Université Catholique de Louvain (UCL), Bélgica. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Ricardo Caichiolo. Diretor da unidade do Ibmec Brasília, PhD em Ciências Políticas e Sociais pela Université Catholique de Louvain (UCL), Bélgica.

O avanço da extrema-direita na França - e não somente nela - representa um fenômeno complexo e preocupante, que suscita debates acalorados sobre os rumos da sociedade contemporânea. Caracterizada por uma visão conservadora e, por vezes, radical, essa corrente política tem ganhado espaço em diversas partes do mundo, levantando bandeiras que muitas vezes confrontam valores democráticos e direitos humanos fundamentais.

Os perigos de uma eventual vitória da extrema-direita na França não se limitam ao seu território. Internamente, haverá a possibilidade da implementação de políticas públicas discriminatórias e excludentes, frequentemente baseadas em princípios nacionalistas e xenofóbicos. Um governo francês de extrema-direita buscará atacar os problemas mais apontados até então por seus simpatizantes: a insegurança, o baixo poder de compra e a imigração. A questão preocupante é de que forma ele buscará atender tais demandas. Historicamente governos de extrema-direita visaram minorias étnicas, religiosas ou sexuais, e impactaram direitos conquistados ao longo de décadas de lutas sociais.

No que tange ao cenário internacional, espera-se igualmente impacto relevante na política externa francesa. Espera-se uma postura mais agressiva e unilateralista, o que poderá comprometer acordos multilaterais e gerar eventuais tensões geopolíticas. Isso pode enfraquecer esforços internacionais em áreas como mudança climática, comércio -e aqui em particular um impacto negativo no acordo comercial entre UE e Mercosul -, e segurança.

Especificamente com relação à União Europeia, ainda que a extrema-direita francesa tenha abandonado o discurso de uma saída do bloco (Frexit), espera-se o questionamento contundente quanto aos seus custos e benefícios. Pode-se igualmente esperar uma mudança da postura francesa diante da guerra na Ucrânia, do conflito entre Israel e Hamas, de suas relações com os Estados Unidos - enfim, pode-se imaginar um profundo impacto na condução de sua política externa.

A eventual vitória da extrema-direita francesa representará não apenas um desafio político. Representará um teste crucial para os fundamentos democráticos e os direitos humanos justamente no país em que foi proclamada, em 1789, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Aguardemos.

 

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